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A estratégia dos STRATEGOS

Por Jefferson Santos

Data de Publicação: 05 de Julho de 2021

As definições apresentadas em artigos e livros sobre a origem e o significado da palavra ESTRATÉGIA variam na forma e são por demais sucintas.

No presente artigo abordarei alguns aspectos adicionais, porém importantes. Para tanto, usarei minha experiência de tempos de caserna aliada, também, à experiência como executivo ou líder (o "mais antigo") em manobras e exercícios militares para ampliar o entendimento da palavra ESTRATÉGIA.

As campanhas militares e bélicas das principais cidades ou regiões de influências política e econômica na Grécia Antiga eram conduzidas por generais com maior ascendência sobre os exércitos. Todavia, em níveis de "planejamento setorial", havia outros generais -de menor patente- encarregados do assessoramento para as decisões dos generais de alto nível e que eram os responsáveis pelo emprego das tropas e dos armamentos nas operações bélicas ou, ainda, nas manobras de ocupações de terreno com o objetivo de se ampliar domínios econômicos e políticos.

Apesar de a definição comumente usada se adstringir a dois pontos: a figura de um general, e a "organização" na qual ele atua: um exército, ela carece de conhecimento e avaliação de outros detalhes para um melhor entendimento sobre o significado e o uso corrente do termo.

A partir desses dois elementos, general e exército, já se pode começar a entender o contexto no qual ambos estão inseridos. Esse contexto era composto por:

  • Algo a ser feito (um OBJETIVO) que pode ser:

    • a manutenção da presente posição;

    • deslocamentos (com alguma finalidade) para:

      • avanço para ocupação de espaço ou enfrentamento de algum inimigo;

      • recuo para proteção, preservação ou recuperação de tropas ou recursos;

  • o conhecimento para se fazer o que tem que ser feito; para se dar consecução a um objetivo específico ou atingimento de metas intermediárias;

  • Recursos disponíveis funcionais e aptos para emprego;

OBS: As condições dos "recursos internos" das tropas (exércitos, organizações, empresa etc.) eram constantemente fornecidos por relatórios;

  • Método ou processo: Conjunto articulado e concatenado de ações, dentro de um prazo específico, para se completar uma meta para se atingir um objetivo que é composto por outras metas intermediárias;

  • Tempo: necessário para

    • Verificação da operacionalidade, prontidão e aprestamento dos recursos, da tropa, da artilharia etc.;

    • Comunicação aos generais comandantes das células (grupos menores) componentes do Exército maior;

    • Início, duração e cessação das ações bélicas;

    • Coleta de dados e de informações para elaboração e emissão dos relatórios setoriais;

    • Avaliação de resultados; e

    • Considerações para ações futuras.

Esses generais se utilizavam de informações presentes no ambiente físico e climático do campo de batalha e as comparavam com os elementos de informações disponíveis em seus "bancos de dados". Essas informações eram registros de todas as batalhas ou movimentos logísticos anteriores.

Esses registros eram compilações de todas as informações oriundas dos "setores organizacionais" que compunham as frações dos exércitos. Eram, então, submetidos a análises e discussões de especialistas (normalmente oficiais que assessoravam generais).

Dessas análises e discussões eram elaborados pareceres ou "lições aprendidas" que adensavam e compunham os "relatórios" que, por sua vez, davam suporte às observações, às conjecturas, aos pareceres e, por fim, às linhas de ação que os generais mais "ranqueados" (ou de primeira linha - que eram os "avaliadores do cenário mais global") escolhessem a "linha de ação" mais apropriada para, então, desencadear a mobilização das tropas e da artilharia.

Avaliando-se, então, o "macroambiente".

Dos fatores externos os STRATEGOS consideravam:

  • condições climáticas:

    • chuva, ventos, neve, gelo, tempestades de areia, etc;

  • condições do terreno:

    • grama, lama, areia, cascalhos, rochas, etc.

  • topografia do terreno:

    • vales, planícies, encostas, morros, montanhas, desfiladeiros etc.

    • depressão, inclinação, elevação etc.

OBS: Essas características físicas são necessárias para se avaliar a influência sobre a integridade, operacionalidade e a produtividade dos recursos (artilharias (bestas, flechas, etc), transportes (carroça, pranchas etc.));

Já das condições dos recursos internos:

  • por intermédio de relatórios oriundos das células menores (setores da empresa) os STRATEGOS tinham condições de avaliar a capacidade de aplicação das tropas e da artilharia além de, também, avaliar as possibilidades de sucesso e de insucesso, tendo a oportunidade de antecipar ações alternativas para se corrigir erros ou mitigar impactos negativos.

ESTRATEGO seria o indivíduo com conhecimentos e habilidade para, por intermédio de informações disponíveis, olhar, compreender e interpretar os elementos e fatos do ambiente externo e como eles podem influenciar, positiva ou negativamente, na integridade e na produtividade dos recursos internos dos exércitos (tropa, artilharia, almoxarifado, suprimentos etc.).

ESTRATÉGIA, portanto, seria a avaliação antecipada da influência dos fatores do ambiente externo na integridade e na produtividade dos recursos internos de uma empresa ou de uma organização.

PLANEJAMENTO: Formas estruturadas e consistentes para se atingir um OBJETIVO;

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: Forma estruturada de se atingir um objetivo considerando a influência dos fatores externos à organização sobre a integridade e o desempenho (produtividade) dos recursos nela existentes.

Do elenco de inferências acima pode se depreender que ESTRATÉGIA:

  • é uma consideração sistemática dos fatos e elementos do ambiente externo, vistos como com capacidade de influenciar (positiva ou negativamente) a integridade dos recursos internos e o desempenho e a produtividade deles quando utilizados para se cumprir uma ou mais metas, na consecução de um objetivo mais amplo;

  • é uma dimensão antecipada de um plano que, preferencialmente, inclui alternativas para caso resultados indesejáveis ocorram; e

  • pode, e deve, ser utilizado em qualquer nível funcional ou setorial de qualquer empresa, independente da natureza, do tipo ou do porte.

Espero que essas colocações auxiliem os leitores em seus desafios organizacionais e empresariais diários, como também, suas demais atividades corriqueiras privadas.

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Simples e perfeito. Muito obrigado por compartilhar o conhecimento!

Sobre o autor

Jefferson Wanderley dos Santos atualmente é Professor, Consultor, Palestrante e Facilitador. Foi piloto militar e civil em mais de 15 aeronaves (aviões e helicópteros) de diferentes tipos e piloto offshore (SK-76C) na Líder Aviação. Possui, no total, mais de 5.000 horas de vôo. Possui ampla experiência em Planejamento Institucional com base em Avaliação de Cenários (organizacional e institucional: Brasil e América do Sul) atuando em treinamentos como orientador de diplomatas civis e militares no módulo Peace Operations Executive Seminar do Pearson Peacekeeping Centre no Interamerican Defense College em Washington - DC - USA e no módulo Large Scale Emergencies and Desasters Seminar também no Interamerican Defense College em Washington - DC - USA. Possui ampla experiência em Consultoria para organizações do Comando da Aeronáutica na área de Gestão Estratégica de Recursos Humanos. Proferiu palestras sobre Gestão de Recursos Humanos na Aeronáutica para militares dos países das três Américas e Caribe no 27º Comitê de Gestão de Recursos Humanos e Ensino em Winnipeg, Manitoba, Canadá.

Proferiu palestras sobre o Brasil e seus cenários social, político e econômicos para diplomatas civis e militares do Interamerican Defense College e National Defense University, ambos na cidade de Washington - DC - USA no ano de 2007; foi coordenador acadêmico no Interamerican Defense College, Washington- USA, 2007 a 2008; foi professor-chefe do Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais na Universidade da Força Aérea RJ no ano de 2009; possui ampla experiência em Assessoramento e Avaliação de Processo Decisório para funções de assessoria, chefia e direção de organizações do Comando da Aeronáutica.

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