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Por Eduardo Maçan
Você já avaliou o impacto das ferramentas de software que utiliza em sua capacidade de expressão e estilo? Não?
Então tente escrever uma carta à mão sem ao menos sentir vontade de desenhar um ":)" nela.
A relação entre software e linguagem é direta e se faz sentir a todo momento. É decorrência do processo natural de evolução dos suportes linguísticos. Não pretendo me arriscar a escrever sobre isso mas selecionei um artigo bem interessante de Glenda Demes da Cruz na revista eletronica Letra Magna versando sobre e-mail. Deste texto eu cito:
"Para atender a necessidades socioculturais e a inovações tecnológicas, o meio e as situações de produção se modificam. A partir do momento que o meio e as situações de produção se modificam, a linguagem utilizada para a produção também se altera."
Não que isso torne bonito escrever "naum" ao invés de não, "printar" ao invés de imprimir ou H4cK3r no lugar de "pessoa sem vida social" mas pelo menos explica.
Muitas plataformas para mensagens instantâneas surgiram ao longo dos anos desde o ICQ. Todos eles se propuseram a resolver a seu modo o problema "funcional" da comunicação instantânea. Alguns até se propuseram a resolver o subsequente problema da comunicação inter-plataformas de comunicação, como o jabber e seus agentes. Poucos se preocuparam em expandir-se ampliando suas possibilidades como suporte linguístico.
É a isso que eu atribuo o grande sucesso, charme e popularidade do MSN. Até mais do que à quase onipresença Microsoftiana nos computadores domésticos.
"AAAAH! Eu não suporto aquele monte de mensagens piscando!" você pode dizer.
É verdade, eu também não suporto. Mas como qualquer ferramenta ela pode ser e frequentemente é abusada. É interessante perceber os padrões:
Geralmente as crianças e adolescentes costumam utilizar nicknames cheios de caracteres supérfluos, textos com cores, ícones animados, etc. por possuirem uma necessidade mais imediata de se destacar em seus grupos. Isso se reflete também em sua maneira de se expressar.
Pessoas que costumam *COF* "transmitir pouca informação por palavra quadrada" tendem a preencher as lacunas com animações e imagens, geralmente associadas a palavras comuns. São as pessoas que associam uma estrelinha à palavra "astro" e um gatinho fofinho à palavra "mia" e que se escreverem "astronomia" vão te fazer perder duas horas tentando entender o que quiseram dizer com "estrela no gato". Iniciantes deslumbrados com esses recursos também tendem a cometer esses abusos.
O verdadeiro charme se torna evidente quando você estabelece uma conversação com uma pessoa capaz de estruturar suas ideías e expressar-se com fluidez. Estas pessoas tendem a privilegiar o texto escrito como transporte de informação e utilizar os recursos "extras" para contextualizar sua exposição, possivelmente expressando humor ou emoções.
Eu acredito firmemente que é possível migrar entre esses grupos primários. Pessoas ligadas à educação devem buscar compreender as razões das "anomalias" linguísticas e trabalhar para que se leve a aula de redação para internet e não o contrário (tarefa árdua, quem vive a situação entende o que eu digo). O caminho passa obrigatoriamente pela ambientação tanto com as ferramentas quanto com os costumes dos que a utilizam.
O MSN messenger e seus recursos à primeira vista tolos expandiram consideravelmente as possibilidades de expressão do usuário enquanto a maioria de seus "concorrentes" se ateve em buscar apenas a solução de problemas funcionais de comunicação textual.
A Microsoft não é exatamente uma donzela inocente e não tem promovido tanta inovação quanto gosta de afirmar, mas devo reconhecer que ela foi capaz de perceber que o enfoque em uma ferramenta de comunicação deveria ser desenvolver a comunicação e não a ferramenta. Obviamente que o proveito foi todo dela.
O MSN se moldou às necessidades da sociedade e forneceu os meios para que seus recursos expandissem sua linguagem sendo por fim incorporados. Isso aqui não é o programa do Raul Gil mas eu tiro meu chapéu pro MSN e sua visão de mercado e de sociedade :P
Eis um exemplo a ser observado por todos os que acreditam que podem modificar algo nos costumes da sociedade da informação através da mera oferta de vantagem financeira ou técnica, pragmatismo ou filosofia. É preciso mais: É preciso saber ouvir e é preciso ter charme para seduzir esta senhorita volúvel a que chamamos sociedade.
Você concorda? Discorda? Me ama? Me odeia? Passou a me odiar só agora? Deixe sua opinião na área de comentários abaixo.
Em Tempo: Eu uso aMSN versão SVN. ;)
Eduardo Maçan é um cara legal que não tem tempo suficiente para se dedicar a tudo que gostaria. Envolvido com sistemas Unix, gerência de redes, TI, criação e implementação de serviços web há mais tempo do que aceita admitir, ajudou Chuck Norris a criar a internet. O espirito de Bruce Lee aparece para orientá-lo quando precisa, os de Obi-wan Kenobi e Yoda também. Quando não está se evadindo de ninjas assassinos para manter suas habilidades físicas, gosta de compor e tocar música. É um cara sério e profissional, mas não costuma conter sua imaginação, ironia e sarcasmo quando não está de terno e gravata. Agora, por exemplo.