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Cesar Brod e métodos ágeis - uma entrevista

Colaboração: Rubens Queiroz de Almeida

Data de Publicação: 24 de setembro de 2014

Nos dias 13 e 14 de outubro próximo Cesar Brod ministrará, pela primeira vez de forma aberta, seu curso introdutório sobre Scrum, na cidade de Campinas, em parceria com o IDPH. O Dicas-L aproveita a ocasião para entrevistar o Cesar, já conhecido de nossos leitores por sua coluna e também por suas dicas.

Dicas-L: Cesar, você imaginou que os métodos ágeis, em especial o Scrum, fariam parte da sua vida como fazem hoje?

Cesar Brod: Eu não digo que sabia, exatamente, como eles fariam parte da minha atividade diária. Por outro lado, eu vejo o Scrum e o Extreme Programming como uma linha contínua de aprendizagem que começou, lá em 1989, quando ganhei, de um professor da NCR-Comten, uma edição de "The Mythical Man-Month", do Fred Brooks Jr., que anos depois tive a honra de traduzir.

Dicas-L: Para contextualizar nossos leitores, o que você estava fazendo nessa época?

CB: Eu estava trabalhando na CPM (hoje CPM/Braxis). A empresa comercializava, no Brasil, os processadores de comunicação da NCR-Comten. É preciso lembrar que, na época, o mercado de informática corporativo ainda era dominado por computadores de grande porte (mainframes), na maioria fabricados pela IBM. Os processadores de comunicação "aliviavam" a carga de trabalho dos mainframes ao tratar de tudo o que era necessário para estabelecer protocolos, tratar erros, etc. Esses processadores de comunicação, porém, eram computadores completos, com sistemas operacionais e seus programas. Ainda lembro que a linguagem na qual eram descritos os protocolos e seus comportamentos era a ACF/NCP (Advanced Communication Function/Network Control Program). Ainda que eu já tivesse feito algumas experiências com software (a primeira linguagem de programação que aprendi foi o Assembler do Intel 8080, depois do IBM/370), foi a partir dos processadores NCR-Comten que iniciei minha migração profissional, mais do suporte ao hardware para o suporte ao software e, mais adiante, para a gestão de desenvolvimento. O Jim Wild, professor da NCR-Comten foi quem percebeu meu interesse por software e me presenteou com o livro do Brooks.

Cesar Brod no centro de treinamento da NCR-Comten em Saint Paul, Minnesota, Estados Unidos, 1989

Dicas-L: Qual é o link entre o livro do Brooks e os métodos ágeis?

CB: O "The Mythical Man-Month" é um livro seminal de Engenharia de Software. Os artigos que compõem este livro começaram a ser escritos em meados dos anos 1950, quando Fred era o arquiteto-chefe do sistema operacional OS/360 da IBM. Há dois artigos muito populares neste livro, o que dá título a ele e que, basicamente, desatrela a linearidade entre horas de trabalho e funcionalidades entregues a um produto e considera a sobrecarga adicionada na comunicação quando se trabalha com equipes muito grandes. Outro é o "No Silver Bullet", que diz que não há uma bala de prata única e milagrosa para resolver todos os problemas de desenvolvimento de software. Ou seja, Fred já considerava a necessidade de um processo claro de comunicação entre a equipe, o limite de pessoas na equipe para garantir o funcionamento desse processo, com o mínimo possível de ruído, e a necessidade de uma boa compreensão de cada problema a ser resolvido.

Dicas-L: Então, de certa forma, você já estava usando métodos ágeis mesmo antes deles serem chamados assim.

CB: Eu acho que isso não é algo que se aplica unicamente a mim. Já havia uma turma que vivia a "filosofia do Unix". Cada coisa deve ter apenas uma função, mas executá-la maravilhosamente. Tinha também a "Ética Hacker" (ainda que isso tenha sido definido mais tarde), que diz que nada pode ficar entre o hacker e seu desejo de criar ou melhorar continuamente alguma coisa. Ou seja, já havia uma preocupação de se trabalhar com elementos de software pequenos, contidos e bem escritos, com equipes pequenas e talentosas, sempre valorizando a comunicação entre as equipes de desenvolvimento e os clientes, a refatoração impiedosa do código e outros elementos que passaram a ser melhor definidos depois do manifesto ágil, em 2001.

Dicas-L: Em vários meios, você sempre foi mais conhecido por seu trabalho com software livre do que com métodos ágeis. Você desenvolve software livre com métodos ágeis?

CB: Desde 1999, quando efetivamente passei a trabalhar com a gestão de TI do Centro Universitário Univates, passei mais a coordenar equipes de desenvolvimento do que desenvolver. Não que eu não "meta a mão na massa" ainda nos dias de hoje, mas meu trabalho está muito mais voltado a construir uma visão arquitetural do que está sendo desenvolvido do que efetivamente programar. Dito isso, como você mesmo trouxe à tona, eu já usava os conceitos da agilidade antes da sua formalização. Mas foi em 2001, depois de uma apresentação da Hyperlógica que assisti na Linux World em São Paulo, que apliquei o Extreme Programming ao desenvolvimento do GNUTeca. A Solis, mantenedora do GNUTeca passou pela certificação MPS.br e incorporou a todo o seu ambiente de desenvolvimento vários métodos ágeis. O Scrum veio logo em seguida e posso dizer que todos os trabalhos desenvolvidos na BrodTec, ou para seus clientes, sempre utilizaram o par Scrum e Extreme Programming. Cheguei a escrever em 2009, com a Joice Käfer, o trabalho Engenharia de Software Livre onde falamos um pouco sobre as várias práticas de engenharia aplicadas a projetos conhecidos de software livre.

Brod com Jon "maddog" Hall e Linus Torvalds no Annual Linux Showcase em Oakland, California, 2001

Dicas-L: Atualmente, o que você está fazendo?

CB: Estou trabalhando como consultor em uma startup baiana, a Sysvale. A empresa foi criada para ser a base de uma residência em software público, nos mesmos moldes já usados pelas residências na área da saúde. Na Sysvale capacitei os desenvolvedores nas metodologias Extreme Programming e Scrum e atuo como coaching de métodos ágeis.

Dicas-L: Seu livro sobre Scrum tem sido bastante elogiado. Ele o ajudou na divulgação de seus cursos?

CB: Sim! Bastante! É interessante que o livro é derivado de praticamente tudo o que eu já havia escrito em artigos, em meu blog. Reformatei esses temas, sob a tutela do meu editor, o Rubens Prates, da Novatec, e o livro foi lançado na época certa, quando o Scrum chegava a seu "tipping point", segundo o seu próprio criador, o Jeff Sutherland. Hoje, o uso do Scrum tem muitas referências de sucesso e as empresas e equipes de desenvolvimento são cada vez mais receptivas à sua aplicação.

Dicas-L: Quem assiste a suas palestras ou cursos percebe que você atrela muito o Scrum ao Extreme Programming (XP). Por quê essa preocupação?

CB: O Scrum e o Extreme Programming nasceram de mãos dadas. Há um e-mail histórico de 1995, do Kent Beck para o Jeff Sutherland, onde o Kent pede pela cópia do artigo original de Jeff e Ken Schwaber e diz que vai roubar o máximo de ideias que puder. Eu gosto de dizer que o Scrum tem a ver com atitude e ritmo, enquanto o XP representa as práticas de engenharia. O Scrum pode funcionar bem, sozinho, em algumas disciplinas que não o desenvolvimento de software. No desenvolvimento, porém, o XP deve sempre ser usado junto com o Scrum.

O e-mail de Kent Beck a Jeff Sutherland

Dicas-L: O que as pessoas podem esperar de seu curso de Scrum?

CB: Em primeiro lugar, elas devem esperar um curso bastante prático e participativo, com muita interação. É muito comum em meus cursos, que, depois da introdução dos conceitos básicos, ele se transforme em uma conversa onde as pessoas trazem fatos de sua vida profissional real e buscam formas de aplicar a agilidade a eles. Isso enriquece muito a dinâmica, pois é mais interessante, mesmo, ver como o Scrum pode ser aplicado ao dia-a-dia, em situações reais.

Dicas-L: Esse curso é para desenvolvedores?

CB: Também, mas o foco não são só eles e sim pessoas que estão envolvidas em processos de gestão, inovação, criação de novos produtos. A ênfase será mais na criação de ritmo, aumento de produtividade e criação de um sentimento de companheirismo e felicidade nas equipes. É um curso introdutório, que dará a base necessária para que os participantes possam seguir adiante, seja de maneira autodidata ou através de novos cursos. Eu tenho a expectativa de uma boa aceitação, já que muitas pessoas vinham solicitando que eu ministrasse meus cursos de forma aberta (até o momento, só os ministrei para turmas fechadas, dentro de empresas e instituições).

Dicas-L: Cesar, obrigado pelo seu tempo!

CB: Eu é quem agradeço, ao Dicas-L, por mais essa oportunidade de divulgação do meu trabalho. Grande abraço a você e a nossos leitores.

Cesar Brod palestrando, recentemente, sobre Scrum

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