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Colaboração: Jomar Silva
Data de Publicação: 15 de abril de 2011
Nos últimos anos eu acompanho o desenvolvimento e a adoção de padrões abertos internacionalmente, e de alguns meses para cá, comecei a notar algumas estranhas movimentações e por conta delas decidi escrever este texto.
Existem dois fatos inegáveis no mundo da tecnologia da informação hoje em dia, que muitas vezes acabam sendo esquecidos no nosso dia a dia:
Empresas são monopolistas por natureza e a dependência tecnológica é a base do modelo econômico da indústria de tecnologia da informação.
O desenvolvimento de padrões tende sempre a comoditizar a indústria e por isso mesmo usualmente são desenvolvidos pelas empresas que dominam os mercados, e o fazem de forma preventiva. Quando estas não tomam a iniciativa da padronização, acabam vendo suas concorrentes mobilizando a cauda longa para que desenvolvam em conjunto o padrão e este quadro alternativo costuma ser o cenário típico do desenvolvimento de padrões abertos.
Os governos do mundo todo usualmente são os grandes demandadores da indústria de tecnologia da informação e seu poder indutor nesta indústria é crucial.
Foi assim que vimos um boom no desenvolvimento de padrões abertos, em grande parte demandado por governos do mundo todo (com destaque à União Européia), que perceberam o elevado grau de aprisionamento em que se encontravam e em que colocavam grande parte das empresas e cidadãos em seus países.
A indústria agiu rapidamente e tivemos inúmeros comitês nos últimos anos trabalhando no desenvolvimento de padrões abertos em tecnologia da informação, o que ocasionou verdadeiras guerras de padrões no mundo todo.
Em alguns países, a adoção de padrões abertos se deu de forma mais acelerada enquanto outros ainda debatem sobre quais padrões adotar, e como sempre este atraso no debate atende a interesses econômicos importantes.
O que noto com grande tristeza, é que existe uma sensação no ar de ?batalha vencida? por parte de diversos governos e isso tem levado-os a não considerar mais a adoção dos padrões abertos como algo prioritário, mas como uma atividade corriqueira, como se tudo já estivesse concluído. Não canso de ver gente falando por aí: Isso aí é batalha ganha?
O resultado deste sentimento na indústria, é que muitas empresas já não tratam também o desenvolvimento de padrões abertos como algo prioritário e portanto, corremos o sério risco de ver padrões que levaram anos para ser desenvolvidos e adotados serem abandonados nos próximos anos.
A alegação que mais ouço das empresas sobre isso é que os governos deveriam trabalhar para a manutenção e o desenvolvimento dos padrões, e do lado dos governos, tenho ouvido com frequência que esta é uma função primordial da indústria? É assim que estamos caminhando a um perigoso jogo de gato e rato !
Por este motivo, eu alerto aos governos do mundo todo que cobrem cada vez mais a utilização de padrões abertos pela indústria de tecnologia da informação, e que cumpram com seu papel de fomentar o desenvolvimento de padrões abertos, principalmente através de casos de uso e de demandas do mundo real.
Lembro-lhes que as empresas em geral só enxergam lucro financeiro, enquanto os governos deveriam se preocupar com o lucro social, e sem a adoção de padrões abertos em TI, o acesso igualitário à informações e serviços públicos por meio eletrônico não são possíveis.
É importante ainda lembrar que em tempos de computação em nuvem, os padrões abertos são mais essenciais do que nunca, uma vez que a armadilha de aprisionamento aqui está na saída e não na entrada.
Desenvolver padrões abertos demanda muito mais tempo e recursos do que desenvolver padrões proprietários, além de comoditizar a indústria, dificultando o lucro fácil e imediato. Se deixarem esta decisão na mão das empresas, não se surpreendam com o resultado final.
Este texto foi publicado originalmente no blog de Jomar Silva. Veja também as versões em espanhol e em inglês deste artigo.
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