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Colaboração: Cesar Brod
Data de Publicação: 29 de agosto de 2010
O artigo a seguir foi traduzido por Cesar Brod, com revisão de Joice Käfer, a partir do original em inglês, publicado na revista Wired de agosto de 2010
Você não pode acelerar uma gravidez de nove meses contratando nove mulheres grávidas durante um mês. Da mesma maneira, conforme diz o cientista de computação da Universidade da Carolina do Norte, Fred Brooks, você não poderá acelerar um projeto de software atrasado com a adição de mais programadores; além de um determinado ponto, fazer isto aumenta os atrasos. Brooks codificou este preceito há 35 anos em um pequeno livro técnico, The Mythical Man-Month (O Mítico Homem-Mês em sua edição brasileira), que recebeu este nome com base na premissa errônea de que mais força de trabalho significaria, previsivelmente, um progresso mais rápido. Hoje, esta sua revelação é conhecida como a lei de Brooks. O livro ainda vende 10.000 cópias ao ano e Brooks - que gerenciou a criação do Sistema IBM S/360, o mainframe de maior sucesso da empresa - é visto como uma lenda. Agora ele escreveu um novo livro, The Design of Design (O Projeto do Projeto: da modelagem à implementação em sua edição brasileira). Ele é uma coleção de ensaios que estendem suas ideias nas áreas de arquitetura, sistemas de hardware e liderança. O diretor executivo e fundador da Wired, Kevin Kelly, falou com Brooks para discutir o lado bom de uma falha, letras minúsculas e o que podemos aprender da Apple.
Wired: Como um rapaz que cresceu nos anos 1940 entre fazendeiros de tabaco da Carolina do Norte envolveu-se com computadores?
Fred Brooks: Quando criança, eu colecionava mapas. Eu tentei todas as formas de indexar a minha coleção, o que fez com que eu me interessasse pela noção de recuperação automática de dados. Em 1944, quando eu tinha 13 anos, eu li sobre o computador Mark 1 de Harvard em uma revista. Então descobri que era com computadores que eu queria trabalhar.
Wired: Quando você, finalmente, colocou suas mãos em um computador nos anos 1950, o que você fazia com ele?
Brooks: Em nosso primeiro ano da faculdade, um amigo e eu escrevemos um programa para compor melodias. A única grande amostragem de melodias a qual tínhamos acesso era a de hinos, assim começamos a gerar hinos de métrica comum. Eles eram bons o suficiente para que nós pudéssemos entregá-los a qualquer coral.
Wired: Você imaginava todas as outras coisas que os computadores viriam a fazer?
Brooks: Ah, não. Naquela época os computadores eram usados principalmente para a computação científica, como o cálculo da órbita de foguetes.
Wired: Então você ficou surpreso pelo advento dos computadores pessoais?
Brooks: Fui surpreendido principalmente pelo fato deles terem se tornado tão baratos. Eu não conheço uma única pessoa na indústria de informática que acreditasse, cinco anos antes do fato concretizado, que nós pudéssemos vender centenas de milhões de computadores por ano.
Wired: O que motivou você a escrever O Mítico Homem-Mês?
Brooks: Quando eu estava deixando a IBM, Thomas Watson Jr. perguntou-me: "Você gerenciou a parte de hardware do IBM 360 e também a parte de software; qual a diferença entre a gestão das duas?" Falei a ele que esta era uma questão muito difícil para uma resposta instantânea, mas que eu pensaria sobre isso. Minha resposta foi O Mítico Homem-Mês.
Wired: Você chegou a esperar que ele fosse lido por pessoas que não fossem programadoras?
Brooks: Não, e fico surpreso que as pessoas ainda consideram o livro relevante depois de 35 anos. Isto significa que ainda temos os mesmos problemas.
Wired: Qual você considera a sua maior realização tecnológica?
Brooks: A decisão mais importante que tomei foi mudar o tamanho do byte da família 360 da IBM de seis para oito bits permitindo, assim, o uso de letras minúsculas. Esta mudança propagou-se para todos os lugares.
Wired: Você disse que a linguagem de controle de tarefas (JCL - Job Control Language) que você desenvolveu para o IBM OS/360 foi " a pior linguagem de programação de computadores já inventada por alguém, em qualquer lugar." Você sempre foi franco assim consigo mesmo?
Brooks: Você pode aprender mais a partir do fracasso do que do sucesso. No fracasso você é forçado a encontrar qual parte não funcionou. Mas em um sucesso você pode acreditar que tudo o que você fez foi ótimo quando, de fato, algumas partes podem sequer ter funcionado. A falha o força a encarar a realidade.
Wired: Em sua experiência, qual é o melhor processo para o projeto?
Brooks: O grande projeto não vem de um grande processo; ele vem de grandes projetistas.
Wired: Mas, certamente, O Projeto do Projeto trata da criação de melhores processos para grandes projetistas.
Brooks: A questão crucial sobre o processo de modelagem de um projeto é a identificação de seu recurso mais escasso. Independente do que você pensar, este recurso não é, muito frequentemente, o dinheiro. Por exemplo, em um lançamento de um foguete para a lua da NASA, o dinheiro é abundante, mas a leveza do material é escassa; cada quilo de peso a ser transportado requer toneladas de material abaixo dele. No projeto de uma casa de férias na praia, o limite pode ser a distância possível entre ela e a linha do oceano. Você deve garantir que toda a sua equipe entenda qual é o recurso escasso que você está otimizando.
Wired: Como o seu pensamento sobre projetos mudou nas últimas décadas?
Brooks: Quando eu escrevi O Mítico Homem-Mês, em 1975, eu aconselhei programadores a descartar a primeira versão de seus sistemas e então construir uma segunda. Na edição comemorativa do 20.o aniversário do livro, eu percebi que a iteração incremental constante é uma abordagem muito melhor. Você constrói um protótipo rápido e o coloca na frente dos usuários para ver o que eles farão com ele. Você sempre será surpreendido.
Wired: Você é um usuário do Mac. O que você aprendeu a partir dos projetos dos produtos da Apple?
Brooks: Edwin Land, o inventor da câmera fotográfica Polaroid, uma vez disse que seu método de projeto era o de começar com uma visão do que você deseja e, então, um a um, remover os obstáculos técnicos até atingi-la. Eu acho que isto é o que o Steve Jobs faz. Ele começa com uma visão ao invés de uma lista de funcionalidades.
Wired: Nas décadas passadas nós observamos notáveis melhorias de desempenho em muitas tecnologias - mas não no software. Por que o software é uma exceção?
Brooks: O software não é a exceção; o hardware é a exceção. Nenhuma tecnologia na história teve este tipo de ganho rápido na relação entre custo e desempenho que o hardware de computador teve. O progresso no software é mais parecido com o progresso em automóveis ou aeroplanos: Nós vemos ganhos constantes, mas eles são incrementais.
Wired: Você está envolvido com software por mais de 50 anos. Você consegue imaginar o software 50 anos à frente?
Brooks: Não. Todas as minhas previsões passadas foram, devo dizer, míopes. Por exemplo, certa vez argumentei que todos os membros de uma equipe deveriam poder ver todo o código de todos os outros colegas, mas o fato é que o encapsulamento funciona muito melhor.
Wired: Você tem algum conselho para os jovens projetistas industriais e arquitetos de software?
Brooks: Modele, modele e modele; e busque por crítica sábia.
Kevin Kelly (<kk (a) kk org>) escreveu sobre os aspectos sociais da cultura digital na edição 17.06 da revista Wired
Cesar Brod foi o tradutor de O Mítico Homem-Mês e de O Projeto do Projeto, com revisão de sua sócia, Joice Käfer. Ambos podem ser contatados através do portal de sua empresa em http://brodtec.com
O Mítico Homem-Mês já pode ser encontrado nas livrarias e O Projeto do Projeto será lançado em novembro de 2010 pela editora Campus Elsevier.
Cesar Brod ministra cursos in-house adequados à necessidade de sua empresa, além de atuar como coach de equipes ágeis. Visite nosso portal para saber mais ou entre em contato diretamente com o autor para mais informações.
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