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Brasil, o país do software livre
Colaboração: Rodolfo Gobbi
Data de Publicação: 20 de Junho de 2003
Qual o caminho deve ser seguido pela indústria brasileira
de tecnologia da informação (TI) é um tema de constante
discussão - algumas vezes com maior intensidade e
outras com um total descaso. Com o novo governo do PT
se apresentando mais nacionalista que os anteriores,
o assunto volta a tona. Também decidi dar minha opinião.
Infelizmente, aos olhos do mundo, o Brasil não tem
uma indústria de tecnologia da informação de grande
visibilidade e isso atrapalha, e muito, qualquer
iniciativa que se tenha para estimular as exportações.
Apesar da grande visibilidade internacional conseguida
recentemente pela Embraer e pela equipe de cientistas
que tiveram participação de destaque no Projeto Genoma
ainda somos vistos pelo mundo como o país do futebol,
do samba, da caipirinha e das mulatas. Não somos vistos
como país gerador de tecnologia mais sim um país que produz
e comercializa commodities ( café, soja, açucar..).
O mercado interno brasileiro é pequeno e por si só não nos
dá volume suficiente para ganharmos competitividade no
mercado internacional. Não dá para definirmos qualquer
caminho para a indústria brasileira de TI sem que
consideremos ganhar parte do comércio internacional.
Enquanto, há anos, o Brasil discute qual caminho seguir
o mundo vive uma revolução silenciosa, persistente e sem
grandes líderes : a revolução do software livre - e assiste
ao nascimento de uma comunidade virtual sem precedentes na
história da humanidade. Estima-se que mais de um milhão
de profissionais estejam neste momento em algum lugar do
mundo envolvidos em algum projeto de software livre.
O software livre não tem "um dono", ou seja, não há uma
grande empresa de software por trás. Todos que decidem
usar um software livre devem seguir suas regras na qual
um software livre não pode deixar de ser livre, pode ser
copiado sem que isso seja pirataria e pode ser alterado
já que o código fonte é aberto para todos. Talvez a única
restrição é que ele não pode deixar de ser livre.
Graças a isso o software livre trás consigo algumas
vantagens muito interessantes sobre o software proprietário
a- flexibilidade e independência tecnológica já que,
por não ser uma "caixa preta ", pode-se alterá-lo para
adequá-lo a necessidade da cada usuário, b- eficiência
já que não precisa-se começar "do zero " qualquer
desenvolvimento de software pois a probabilidade de
você encontrar algum software pronto em algum lugar do
mundo é muito grande e com isso não se gasta tempo e
dinheiro "reinventando a roda", c - apelo comercial -
os profissionais de TI de todo o mundo vêem com bons
olhos os softwares livre e quando um empresa possui,
por exemplo, o Linux dentro de seus produtos o cliente
que está comprando já sabe o que irá encontrar "dentro"
do produto e não terá surpresas. Neste caso, o trabalho
de marketing, já foi feito pela comunidade Linux. Uma
empresa que queira vender os seus produtos em outros país
pode gastar meses ou anos divulgando seu produto ao seu
novo mercado ou mesmo capacitando profissionais neste
novo país para suportar os seus produtos.Com o Linux é
muito provável que exista milhares de profissionais que
já o conheçam em qualquer país do mundo. As barreiras de
entrada são menores. A Cyclades faz parte da história
do software livre.É uma empresa brasileira fundada em
1989 e foi a primeira empresa do mundo, em 1994, a fazer
uma placa de comunicação de dados para Linux. A Cyclades
acreditou neste modelo antes mesmo dele ser tão famoso
como é hoje. Atualmente quase toda a comunidade mundial
de software livre conhece a Cyclades. O software livre
ajudou a projetar a Cyclades para o mundo. Atualmente a
Cyclades fornece seus produtos para aproximadamente 300 das
500 maiores empresa do mundo listados pela revista Forbes.
Para crescer e conseguir projeção internacional, a
Cyclades, uma empresa fundada por brasileiros teve que
se apresentar para o mundo como uma empresa americana. É
difícil vender tecnologia para o mundo apresentando-se
como uma empresa brasileira. A Cyclades por si só é que
não iria conseguir quebrar este paradigma.
Mas o que a Cyclades tem a ver com a discussão sobre
o futuro da indústria brasileira de TI? Tudo a ver! O
modelo que ela encontrou para crescer e se projetar pode
servir de exemplo e de modelo para uma política para a
indústria brasileira de TI. Se o software livre e mais
particularmente o Linux teve um grande papel no sucesso
mundial da Cyclades imagine o que pode acontecer com o
Brasil se ele se apresentar para o mundo como o país do
software livre?
Nas discussões sobre qual caminho seguir fala-se em criar
uma indústria brasileira de componentes eletrônicos ( chips
) devido aos nosso grande déficit na balança comercial
. Muito tarde! Os tigres asiáticos já dominaram este
mercado e dificilmente o Brasil conseguirá se projetar ;
isso sem falar dos pesados investimentos necessários para
este tipo de indústria.
Um outro caminho proposto é fortalecer a indústria nacional
de software para que ela passe a exportar cada vez mais. Os
programas do governo federal para estímulo a exportação
de software, vêm tentando este caminho há mais de 10
anos com resultados abaixo do esperado. A Índia está
anos na nossa frente na formação de profissionais para
este tipo de indústria e já levou para o seu território o
centro de desenvolvimento de software de várias empresas
multinacionais.
O lugar ao sol do Brasil no mercado mundial de TI está
ficando cada vez mais restrito. Não podemos perder o bonde
mais uma vez.
Por este motivo acredito que o Brasil precisa rapidamente
se posicionar para o mundo como o líder em algum seguimento
na área de TI, qualquer que seja ele.Seja como o país
das soluções de automação bancária ou seja como o país do
software livre ou mesmo como o país dos aviões de pequeno e
médio porte. O mundo precisa lembrar-se automaticamente do
Brasil quando tiver alguma necessidade tecnológica assim
como lembra quando o assunto é futebol.
O software livre foi o caminho encontrado pela Cyclades
para crescer e se projetar internacionalmente e, com
certeza, precisa estar presente em qualquer pauta de
discussão sobre o futuro da indústria brasileira de TI.
Assumir a bandeira do software livre não requer
um investimento de grande monta como a indústria de
componentes eletrônicos nem mesmo precisaremos de longos
prazos para se obter os primeiros resultados financeiros.
Assumir a bandeira do software livre não requer um grande
investimento de marketing para fazer a marca "Software
Brasil" conhecido. O software livre já é conhecido
mundialmente. Meio caminho andado. Marcelo Tosatti, o
mantenedor do kernel do Linux, é brasileiro.O Brasil
possui excelentes programadores. Basta nos posicionarmos
como o país do software livre e colocarmos na memória de
todo o mundo que quando precisarem de soluções e serviços
baseadas em software livre o Brasil é o país certo para
encontrarem a solução.
Atualmente, todos os países em desenvolvimento procuram
fortalecer sua indústria de TI para conseguir um lugar
de destaque no cenário mundial. Ninguém tem dúvidas que
este será um dos maiores setores econômico do mundo. Se
o Brasil não agir logo e ficar discutindo, discutindo,
discutindo iremos perder mais uma excelente oportunidade
de conseguirmos nosso lugar ao sol no cenário mundial de TI
e ficaremos assistindo algum outro país assumir este papel.
http://www.cyclades.com.br "Everywhere with Linux"
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