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Escolas de gestão para o aprendiz de feiticeiro

Por Ivan Postigo

Data de Publicação: 19 de Dezembro de 2010

Quando nosso grupo abriu o curso de pós-graduação naquele ano, procurando debater variadas teses sobre formas de apuração de custos, bases para formação de preço de venda, foi abruptamente interrompido pelo mestre, postulante ao doutorado: - Não, não! Não é isso que queremos. Vamos iniciar definindo o que é custo e despesa.

Silencio...

O incômodo foi geral. Quase trinta pessoas na sala, todos executivos, procurando respostas para reais problemas empresariais, e começaríamos a tratar de aspectos básicos que já tínhamos deixado nos primeiros anos da universidade?

Sim, e dessa forma, naquele ano, apesar de toda contestação, o postulante levou os debates.

Passados alguns anos nos encontramos e ele me dizia: - Naquela época não sabíamos muito bem o que queríamos. Por isso, recentemente, fizemos mudanças no currículum.

Agora trabalham com estudos de casos e situações práticas? Continuam achando desnecessário.

Interessante esse conceito, pois teimam ensinar aquilo que os aprendizes não consideram seus pontos fracos.

A magia não está em ensinar novos truques e poções, mas permitir que o feiticeiro possa se desenvolver para que um dia também seja um mago.

Naquele momento, todas tentativas de levar situações reais para as salas de aulas enfrentaram barreiras, não porque não fossem adequadas, mas pela distância entre o mundo acadêmico e a realidade empresarial.

Refletindo sobre essa questão, me recordo de uma situação em que um aluno, quando cursava graduação, fez uma pergunta a um dos professores, totalmente pertinente a matéria, e recebeu a seguinte resposta: - Você está procurando solução para um problema aqui na sala de aula? Consultoria eu cobro à parte!

O aprendiz de feiticeiro, desde que o homem fabricou seu primeiro caldeirão e a varinha mágica, passando por Merlin , o Mago do ciclo Arturiano, à Harry Porter, expressa a necessidade de efetivas aplicações do conhecimento para o aprendizado.

Você jamais saberá o poder da pólvora até que sobre ela coloque fogo.

Há uma cena interessante que pode ser encontrada na internet, provocada com o conhecimento de uma solução e falta de experiência em sua aplicação:

Em um local de difícil acesso, uma baleia morta na praia precisava ser retirada. Inteira não poderia ser removida, então os técnicos resolveram fazê-la em pedaços. Para isso colocaram explosivos, esconderam-se atrás de alguns veículos e os acionaram.

Exageraram no procedimento e lançaram no ar enormes pedaços do animal, que caíram sobre os carros provocando grandes estragos, felizmente materiais.

Em gestão, os efeitos dos erros nem sempre são imediatos, por essa razão experiências de uso e seu histórico precisam ser de domínio dos gestores.

Você conhece algum bom cozinheiro puramente teórico? Certamente que não!

A experiência vem com muitas horas sob o calor das panelas e borrifadas de óleo quente na a pele.

Uma amiga quase incendiou o apartamento todo quando jogou água sobre a frigideira que pegava fogo.

Quando lhe perguntam como pode praticar ato tão impensado, irritada responde: - Nunca fiz um curso de culinária, nem fui treinada em brigada de incêndio.

Quando tratamos de estratégia e tática, insistimos que é melhor ver uma vez do que escutar cem vezes.

Um homem aprende mais sobre o gato quando o leva para casa arrastado pelo rabo do que com toda literatura e explicação que possa encontrar sobre o felino.

O aprendiz de feiticeiro precisa sentir o calor do fogo sobre o qual está o caldeirão, e fazer suas misturas de sapos e asas de morcegos, como teste, antes de aplicá-las efetivamente.

Nesse sentido, a escola é ideal para exercícios teóricos e práticos, pois é um local onde teses - proposição intelectual- não geram consequências.

Aprendizes precisam de exemplos práticos, situações reais para ativar a cola mental onde aderem os conhecimentos.

É fundamental que tenham sempre pulgas atrás das orelhas, que os incomodem e tirem do conforto da ignorância.

Sobre o autor

Ivan PostigoIvan Postigo é economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas. Escreve artigos com foco nos aspectos econômicos e de gestão das empresas para jornais e revistas. Desenvolve consultoria e palestras nas áreas mercadológica, contábil/financeira e fabril. Autor do livro: Por que não? Técnicas para Estruturação de Carreira na área de Vendas.

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