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Depois da falência.

Por Ivan Postigo

Data de Publicação: 08 de Junho de 2010

Como você imagina que transcorre um processo de falência?

Deixo a pergunta para que reflita. Cada um pode inventariar suas próprias impressões.

Existirão muitos argumentos e defesas para eximir os gestores da culpa pelo fracasso, mas consideremos que erros na administração impediram melhor sorte ao empreendimento.

Como se comportarão os gestores e empreendedores que enfrentaram a turbulência?

Mudarão a forma de conduzir os novos negócios?

Procurarão aprender um pouco mais sobre técnicas e procedimentos?

Estarão preparados para se cercar de profissionais experientes?

Ouvirão com mais atenção conselhos e recomendações?

Trabalharão com seus comandados com mais tolerância?

Delegarão mais, investindo pessoas competentes de autoridade?

Para essa reflexão não considere apenas empresários, mas também executivos contratados que fracassaram terrivelmente e perderam seus cargos.

A "dança das cadeiras" é fato corriqueiro no mercado, a simples demissão por aspectos políticos ou incompatibilidade de comportamento ou linha de condução dos negócios não qualifica o gestor como foco para análise.

Pensemos num fato onde o erro na condução é evidente.

Como se comportaria essa pessoa após o desastre?

O nosso desejo, expectativa, os argumentos teóricos diriam que a dor, no mínimo, provocaria enormes mudanças.

Não sou especialista no assunto, portanto não me proponho a defender teses.

Como profissional exposto a essas situações me interesso pelos fatos e condutas posteriores.

Já ouvi muitos lamentos e promessas, mas não demorou para aqueles fossem esquecidos e estas abandonadas, assim que os bons ventos voltaram a soprar.

Advogados, psicólogos, administradores, que assessoraram profissionais e empreendedores na superação dessa difícil fase, inclusive os próprios, me disseram: - Pessoas não mudam, no máximo se controlam.

Uma lição que esses fatos me ensinaram no início da carreira foi a seguinte: "Quando o chamarem para organizar uma empresa não se espante se em pouco tempo começarem a lhe dizer o que fazer"!

Conheço vários gestores com esse comportamento, mas vou me prender a um fato específico.

Em uma empresa na qual desenvolvi um extenso trabalho de organização o gestor principal vivia aos gritos com seus funcionários.

Fizemos um acordo: Ele trataria comigo todos os assuntos, assim evitaríamos maiores desgastes.

Estariam, ele e seus comandados, livres dos confrontos diários.

Passaríamos a despachar duas vezes por dia, sempre que ele estivesse na fábrica. E assim fizemos.

Essa forma de trabalho começava a receber elogios, uma vez que os gritos haviam cessado, quando um dia, após visitarmos todos os setores e tratado exaustivamente de muitos assuntos, logo após ter deixado sua sala, pensei: Meus ouvidos me traem ou nosso acordo foi por água abaixo.

Rapidamente me dirigi à sua sala para evitar um mal maior, e o encontro vermelho, batendo na mesa e gritando ao telefone.

Assim que terminou me disse: - Estava dando uma bronca no meu jardineiro.

Depois de conversarmos que aquilo era desgastante para ele, para a pessoa com quem havia entrado em conflito, principalmente um profissional que o vira elogiar muito, com um sorriso nos lábios me disse: - Eu tento, mas não consigo, preciso brigar com alguém todos os dias.

Concluído nosso projeto de organização, um responsável pela continuidade foi empossado.

Não suportou viver naquele ambiente conflituoso. As únicas mudanças que são vistas ultimamente não são positivas.

A rotatividade tem aumentado significativamente e as vendas sofreram substancial redução.

Espero que possam reverter a situação financeira, mas para isso se não conseguir mudar, é necessário, pelo menos, que se controle.

Interessante é que, em sua longa jornada como empresário, muitos de seus amigos não tiveram um futuro brilhante. Ele próprio é testemunha que teriam se saído melhor se tivesse mudado, mas também não consegue absorver as lições.

Depois da falência será que continuaremos os mesmos?

Acrescentando ao nosso histórico apenas mais algumas cicatrizes?

Espero que não, mas se assim for sorte dos concorrentes...

Sobre o autor

Ivan PostigoIvan Postigo é economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas. Escreve artigos com foco nos aspectos econômicos e de gestão das empresas para jornais e revistas. Desenvolve consultoria e palestras nas áreas mercadológica, contábil/financeira e fabril. Autor do livro: Por que não? Técnicas para Estruturação de Carreira na área de Vendas.

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