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Pinto no Lixo

Por Carlos Nepomuceno

Data de Publicação: 03 de Setembro de 2007

A internet revoluciona o mundo ou o mundo usa a internet para se revolucionar? Livro Uma história social da mídia, de Gutemberg à Internet, tenta explicar.

O ovo ou a galinha? Me arrisquei em uma palestra a responder: o galinhovo ou ovolinha! Na verdade, a versão 1.0 desse animal, que foi evoluindo em novas versões até se separar em alguma delas e virar o que temos hoje: o ovo 2.0 e a galinha 2.0, que levamos para casa para assar e fazer omelete.

O assunto veio à baila, pois cabe também perguntar: é a internet que revoluciona o mundo ou o mundo que usa a internet para se revolucionar?

É um dos temas do ótimo livro Uma história social da mídia, de Gutemberg à Internet, de Asa Briggs e Peter Burke, da Zahar.

Nele é narrada a mudança do mundo com a chegada da prensa, inventada por Gutemberg em 1450, que permitiu com a multiplicação de editoras a circulação em maior escala de jornais e livros.

Um processo de mudança cultural que resultou em diversas revoluções posteriores, tais como a Industrial, Francesa, Americana e a Russa, esta quase 400 anos depois.

O autor argumenta que não se pode considerar a invenção do livro e dos jornais impressos como principal agente dessas mudanças, mas apenas um propiciador, na qual diversos interessados em transformar a sociedade se apoderaram de seus recursos para atingir objetivos

Na verdade, se não houvesse jornal e livro, Lênin não teria lido Marx, que por sua vez não teria lido Hegel. E Lênin não teria publicado o Iskra (Faísca), jornal com o qual os bolcheviques espalharam suas idéias pelo antigo império.

Ao ler o livro de Brig e Burke reforçamos ainda mais a idéia de que mudanças de paradigma de comunicação afetam profundamente a sociedade.

Diferente de outras tecnologias que também mudam o planeta, mas ainda de uso restrito, como um foguete que, por enquanto, leva apenas alguns poucos humanos ao espaço, a comunicação e a informação são ferramentas básicas para a sobrevivência da espécie para produzir e, portanto, comer, beber, morar e se alimentar.

Se uma nova possibilidade é capaz de fazer tudo isso de uma forma diferente, melhor e mais ágil, é logo difundida rapidamente, esbarrando, claro, nas resistências do poder estabelecido, como foi na época da proibição da publicação de livros em vários países, no século XVI e XVI, como é hoje na China, que limita a internet.

As novas tecnologias de comunicação e a informação, assim, marcam grandes eras na história da humanidade, a saber: o silêncio, os urros, a fala, a escrita, o livro, os meios de comunicação de massa e, agora, a internet.

Nesse processo de rupturas e não de evolução, o ser humano na nova era vai maturando as diversas novas potencialidades do novo meio e dando a alguns revolucionários de plantão novas respostas possíveis, antes inviáveis, a velhas perguntas: por que será que isso é assim?.

— Por que será que eu compro um CD inteiro quando quero apenas uma música?

— Por que será que eu pago tão caro para falar com meu primo no exterior?

— Por que será que eu tenho que sair de casa para comprar os livros que preciso para ir à escola?

— E por que será que não posso comparar os preços e ver qual é o mais barato?

— Por que será que eu não posse desenvolver livremente um software com os meus amigos e colocara para o planeta todo usar?

E algo que já anda circulando pelo mundo:

— Por que será que eu voto em um parlamentar para decidir algo que agora já posso fazer de casa?

Assim, podemos dizer que as mudanças na comunicação e informação são agentes condicionantes de alterações sociais. Sozinhas não geram nada, mas na relação do homem transformador com a nova técnica surge uma outra possibilidade, uma verdadeira neo-filosofia, um jeito diferente de olhar para o mundo, que permite, assim, resolver problemas antes insolúveis.

E tudo entra em espiral galopante para cima.

Vide os últimos 15 anos da rede. Assim, a Web 2.0 é, no fundo, o início da fase que a galinha (nova) sai do ovo (velho). Ou da galinha (velha) que gera um (novo) ovo. Os que querem mudar a sociedade estão que nem pinto no lixo!

Sobre o autor

Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. É professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.

É autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.

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