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Scrum - o Scrummaster como o líder servidor

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 03 de Fevereiro de 2015

Por muito tempo relutei em aceitar a analogia entre o Scrummaster e o líder servidor. Descobri que só perdi tempo em reconhecer mais essa verdade. As desculpas que temos disponíveis para não percorrer o caminho ao sucesso são muitas e é necessário alguém muito especial para eliminar essas desculpas, obstáculos, impedimentos. Alguém que mantenha aceso e brilhante o farol que indica o porto de chegada.

O Scrum é um conjunto muito pequeno de papéis, ritos e artefatos. Pequeno de propósito. Para ser seguido à risca. Ele é um retorno à simplicidade e a um tempo antes de termos sucumbido a estruturas rígidas, formais e hierárquicas. Um retorno à infância, quando sabíamos organizar as nossas próprias brincadeiras. Ele impõe um ritmo ao trabalho e nós gostamos de ritmos, funcionamos melhor com eles. Ele incentiva e facilita a comunicação entre as pessoas. A sua prática lúdica e zen nos leva a ser mais felizes e a espalhar essa felicidade adiante.

A função do Scrummaster é sacerdotal. Ele é o guardião dos papéis, ritos e artefatos. Durante as reuniões diárias ele incentivará os membros da equipe a contarem sobre seus feitos do dia anterior, as atividades que acontecerão no dia atual e a exporem os obstáculos que encontram pelo caminho. Ele fará o registro do esforço já consumido nas atividades para o dia e exporá o resultado em um gráfico de acompanhamento, o burndown chart, que ficará visível para todos e, imediatamente, tratará de remover os obstáculos ao trabalho da equipe.

Ao final do período de um Sprint (eu gosto que esse seja um período curto, de uma ou duas semanas), o Scrummaster passa sua estola a um outro membro da equipe que irá, então, assumir esse papel. É importante marcar essa entrega do papel com algum elemento físico: uma estola mesmo, um chapéu, um bastão. A rotatividade do papel do Scrummaster é de suma importância. Ela nos ajuda a lembrar que o Scrummaster não é o chefe, o gerente de projetos ou algo que o valha. Na equipe Scrum não há chefe ou gerente. A decisão sobre a forma por meio da qual as coisas serão feitas cabe a toda a equipe.

Em seu livro Os Segredos da Mente Milionária, Harv Eker fala sobre algumas situações típicas de vítimas às quais o Scrummaster deve prestar atenção. Elas auxiliam na identificação dos cheiros que são um sinal de que o Scrum pode estar apodrecendo.

  1. A culpa é dos outros

    A equipe Scrum é uma entidade. Não há outros. A propriedade de tudo o que é desenvolvido é coletiva. Se há algum obstáculo que, para ser sobreposto, exige alguma pessoa externa à equipe (ou o tratamento de algum fator externo), o Scrummaster atuará em sua remoção para que a equipe siga executando o seu trabalho. O exercício da programação em pares, que transforma a unidade mínima da equipe Scrum em duas pessoas trabalhando em conjunto ajuda - e muito - na consciência da propriedade coletiva.

    Lembre-se da piadinha infame: não há UM em ScrUM! Também não há culpa! Apenas fatores externos que podem se constituir em obstáculos a serem removidos pelo Scrummaster.

  2. Sempre há uma justificativa

    Dia da revisão do Sprint e uma das histórias não está completa. Afinal, ela nem era tão importante assim. Ledo engano! Uma história que entra em um Sprint deve ser completada. Não cabe à equipe fazer o seu julgamento posterior, especialmente sem o envolvimento do Product Owner - claro, esclarecimentos sobre uma determinada história podem ocorrer.

    Não consideramos o feriado. O Caio ficou doente três dias da semana. Nada é justificativa. A equipe Scrum é elástica e funcionará com maior produtividade para tornar invisível a falta de um de seus membros. Feriados estão no calendário, não são surpresas.

    Há exceções? Claro! Em tudo! Choveu muito forte, inundou toda a empresa e a equipe teve que largar tudo para ajudar, por três dias no processo de limpeza e manutenção. Exceção. Cancela-se a Sprint e, assim que possível, ela é retomada com o rescaldo da Sprint incompleta a partir de uma nova reunião de planejamento da Sprint. O Product Owner, claro, deve ser informado da situação e concordar com o cancelamento.

  3. Queixas

    A equipe Scrum é proativa. Se há algum problema e seus membros podem resolvê-lo, eles o resolverão sem acionar o Scrummaster. Um membro que vive se queixando das coisas sem ser capaz de propor alguma solução, ou para o qual tudo é um obstáculo a ser resolvido pelo Scrummaster é um forte candidato a deixar de ser membro da equipe. A demissão é, também, parte da formação de um profissional e deve ser encarada como tal.

    Queixas constantes tendem a forçar um desvio no foco da equipe. O atendimento à queixa de poucos passa a receber mais atenção do que a excelência no desenvolvimento de funcionalidades. Queixas são ervas daninhas que devem ser extirpadas ainda na semente. O Scrummaster, prestando atenção nisso, saberá martelar as sementes das queixas para que elas não tenham chance de brotar.

    Como diz Eker: "você já reparou como costuma ser difícil a vida das pessoas que vivem se lamentando?" Você não quer pessoas assim na sua vida e muito menos em sua equipe Scrum.

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The Land That Scrum Forgot, palestra do tio Bob Martin que, dentre outras coisas, também ressalta a importância do papel rotativo do Scrummaster.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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