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Repensando o Scrum Bunda - extras

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 28 de Novembro de 2013

Sou muito fã da estética do frio, formalizada pelo Vitor Ramil e tão bem sintetizada, por ele mesmo, na Milonga das Sete Cidades. Todo bom texto deve passar pelo crivo de sete cidades frias, chamadas Rigor, Profundidade, Clareza, Concisão, Pureza, Leveza e Melancolia. A cidade menos óbvia, por isso a última por onde passa um escrito, em sua viagem, é a Melancolia. A própria letra da música do Vitor dá a dica:

Em Melancolia @@ A minha alma me sorriu @@ E eu me vi feliz

Indo mais adiante, mas aqui ao lado, na Wikipedia, temos uma definição para melancolia:

Melancolia (do grego melagcholía; de mélas, "negro" e cholé, "bílis") é um estado psíquico de depressão com ou sem causa específica. Caracteriza-se pela falta de entusiasmo e predisposição para atividades em geral.

O crivo da Melancolia para um texto é a sua leitura sem entusiasmo, sentimento ou preconceitos, ao final da qual o próprio estado melancólico é transmutado em felicidade.

Tudo isso para dizer que, quando escrevo um texto, ele viaja pelas sete cidades e muita coisa é cortada. Mas a sétima cidade é a mais cruel e, às vezes, ela nos obriga a um abandono de coisas que, se lá no início da escrita tinham alguma relevância, a leitura desentusiasmada as transforma em lixo. O crivo das sete cidades, porém, é só o crivo crítico de quem escreve. Dado como pronto, o texto ganha outra vida aos olhos dos leitores, vira assunto de conversas e quem escreve percebe, então, que foi cruel demais em seus cortes. Acho que é por isso que tantos filmes são relançados com a versão do diretor, em edições sem cortes, cenas extras e tudo o mais. É o resultado da consciência de que nada é definitivo, final, em especial na web.

Lembro de uma entrevista com o Chico Buarque onde ele mostrava que destruía gravações intermediárias, picotava textos que não fariam parte das versões finais de seus livros, tudo isso porque odiaria ver, após sua morte, coisas como Chico Inédito e Íntimo. O que não passa pelo crivo do artista é para ficar para sempre inédito, segundo ele. Não sei se concordo. Algumas conversas me mostraram que coisas que deixei de fora nos dois artigos anteriores dessa série merecem ver a luz do dia. E eu não sou nenhum Chico Buarque.

Minha amiga Fabianne Balvedi, diretora e produtora do excelente curta Olhar Contestado, feito totalmente com ferramentas livres, falou, abrindo o coração, sobre o sofrimento do artista em produzir algo que ficará exposto aos olhos do mundo. Achei uma bobagem o que ela disse, na época. Pensei: Bah, tchê! Quanta melancolia nessa lindeza! - viu só? Hoje entendo.

Muita coisa ficou de fora nos artigos anteriores dessa série, mas a que eu acho que merece voltar agora é a real motivação para aproveitar um Scrum Bunda e levá-lo a um Scrum Top. O lado da empresa ficou explícito: aumento de produtividade traduzido em aumento de lucratividade, com a comprovação por meio de indicadores estratégicos. O lado humano ficou nas entrelinhas: trabalhar com prazer e ter tempo para exercer a criatividade e inovação. Não gosto das separações entre trabalho, prazer, lazer, ócio. Idealmente, criamos e inovamos em uma bolha que combina todos esses substantivos, sem limites entre eles. Mas, para facilitar, usando definições mais clássicas, o bom Scrum deve servir para trabalharmos cada vez menos e criarmos cada vez mais, produzirmos cada vez mais, além do que escolhemos como produto ou projeto. É a busca pelo Ba absoluto, global. É pensar no próximo e em todos, no mundo, em cada trabalho no qual temos a oportunidade de participar.

Naquela reunião diária, acrescente uma pergunta que não precisa de resposta imediata: o que você fez para melhorar a vida de outras pessoas?

E lembre-se sempre, padawan! Se a reunião diária não está acontecendo, então o seu Scrum está no nível muito bunda mesmo.

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Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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