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Cinco anos do Portal do Software Público Brasileiro

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 11 de Abril de 2012

Você sabia que, mesmo antes da Free Software Foundation formatar a definição de software livre, em 1985, o Brasil já desenvolvia sistemas operacionais compatíveis com o Unix, o mesmo sistema no qual o Linux é baseado? O ano de 1982 marcou o início do projeto PLURIX na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a COBRA e com a Digibrás. A ideia do projeto PLURIX era a criação de um "Unix" que não dependesse de licenças da AT&T, então proprietária do sistema. Em 1985 o PLURIX já rodava em uma máquina PEGASUS, baseada no processador MOTOROLA 68010/20, também desenvolvida pelo Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ.

Lembro de ouvir falar do PLURIX quando, em 1982, eu, o Dunga, o Geisel e o Juary estávamos trabalhando em um mirabolante projeto de conclusão do curso técnico em eletrônica do Colégio Lavoisier, no Tatuapé, em São Paulo. O projeto consistia, inicialmente, em um medidor de distância que tomava como referência o reflexo de um pulso de ultrassom em uma superfície. Usávamos um processador 8048, programável em assembler, e começamos a aloprar. Lembro que o Dunga disse: "se derivarmos a distância medida em vários pulsos, podemos medir a velocidade de objetos em deslocamento". Daí para querer derivar a velocidade e chegar na aceleração foi um pulo. Criávamos o nosso próprio radar ultrassônico, ao menos na teoria e nas nossas cabeças. O professor chegou a pedir que mantivéssemos nossos pés no chão, mas nós queríamos era voar. Claro que o tempo que o processador tinha entre o pulso de ultrassom que enviava e o que recebia era curto demais para rodar o programa em assembler que só o Dunga entendia. Para resumir, aproveitamos as peças e, com o pouco tempo que nos sobrou para terminar algum projeto viável, criamos uma caixinha de música digital programável.

Sempre que uma certa turminha da velha guarda, na qual já me incluo, se encontra, a gente sonha com um programa de entrevistas no qual relembrássemos as histórias da tecnologia no Brasil e como, cada um de nós, acabou se envolvendo com software livre. As semanas que antecederam o aniversário de cinco anos do Portal do Software Público Brasileiro, neste dia 12 de abril de 2012, foram especialmente nostálgicas. Pouco tempo antes de assumir o cargo de coordenador geral de inovações tecnológicas aqui na secretaria de logística e tecnologia da informação do Ministério do Planejamento, eu sequer imaginava que assumiria a coordenação do Portal do Software Público Brasileiro, a convite do amigo, e hoje chefe, Corinto Meffe.

Vi o Portal do Software Público Brasileiro - PSPB, crescer desde sua concepção na cabeça do Corinto, no comecinho dos anos 2000. O Corinto acreditava que o software livre caminhava por um processo de maturação e que chegaria o momento em que o governo, exercendo seu poder de compra, seria capaz de ao mesmo tempo usar softwares livres para atender suas necessidades e, com isso, investir na sua melhoria contínua através da contratação de serviços que qualificariam estes softwares para usos cada vez mais intensos e profissionais. Por isso era necessária a criação de uma estrutura que permitisse o desenvolvimento e a aquisição colaborativa de softwares e serviços e a criação de um ecossistema capaz de gerar novas oportunidades de trabalho, emprego e renda.

O PSPB já gerou muitos negócios. Prefeituras, instituições de ensino, órgãos de governo e empresas privadas são usuárias de diversas das soluções disponibilizadas no portal e contratam serviços para a sua manutenção e melhoria. O que venho percebendo, de forma crescente, é a capacidade agregadora do PSPB. As comunidades que mais crescem, geram negócios, são admiradas por outras que desejam aprender o mesmo caminho. Aquele que oferta uma solução percebe que pode agregar a seu conjunto de serviços qualquer outra solução disponibilizada no portal. Produtos em software público afins geram parcerias entre empresas e até empresas que tradicionalmente trabalham com soluções proprietárias já começam a pensar e efetivar a transformação de seus produtos em softwares públicos. Esta é uma lógica mais justa, que preserva o conhecimento público e livre como todo o conhecimento deve sempre ser.

O conhecimento livre permitiu a existência do PLURIX, do Linux. Permitiu que uma turma de malucos do Colégio Lavoisier aprendessem um bocado com um radar ultrassônico que sequer funcionou. O conhecimento livre gera produtos, empresas, empregos. O conhecimento público e livre é a essência do ecossistema que tem o Portal do Software Público Brasileiro como um componente central e importante.

Tenho um tremendo orgulho em participar desta festa de aniversário de cinco anos com toda a minha equipe - Seyr, Daniel, Cristiano, Nayanne, Samia, Marisa, Débora, Silvio, Gleydson, Antony, Nitai, Christian, Augusto, Danilo -; com todos os que já passaram por aqui e continuam nos ajudando, como o Eduardo, o Cayo, a Nazaré; os sempre presentes colegas Everson, Cláudio e suas próprias equipes; o secretário da SLTI, Delfino e, em especial, com o pai dessa importante história: Corinto Meffe.

Muito obrigado a todos, em especial àqueles que disponibilizaram suas soluções no Portal do Software Público Brasileiro, permitindo que ele tenha se tornado real e que continue crescendo. Temos muito trabalho pela frente!

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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