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Ficção Científica? #FIM!

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 21 de Fevereiro de 2011

Os olhos que Reuben havia desenvolvido eram perfeitamente adequados à escuridão. A luz forte que agora iluminava a caverna o ofuscara completamente. Não tinha mais tempo. Não tinha um corpo para lutar. Tinha que confiar na força da personalidade que havia submetido ao cérebro de Iran e no que mais o planeta pudesse, de alguma forma, reservar a ele. Não sabia como verbalizar o que esperava, mas Reuben esperava alguma espécie de milagre. Desligou o tubo que trazia oxigênio e nutrientes para seu cérebro e, lentamente, acompanhou sua mente desvanecer-se em uma infinidade de pedaços.

-oOo-

Itzlav Ziembinski não pôde mais comunicar-se nem escrever nada após a experiência derradeira que uniu os dois hemisférios de seu cérebro. Se seu corpo tivesse sobrevivido mais algumas centenas de anos, o avanço tecnológico teria permitido que ele fizesse mais relatos do que acontecia em sua mente e toda a confusão registrada pelos aparelhos adquirisse um novo sentido. Talvez, porém, Ziembinski preferisse não descrever a conexão imediata e profunda que sentiu com todo e qualquer ser vivo da Terra no exato momento em que a conexão entre os dois hemisférios de seu cérebro, de acordo com suas instruções, fora ativada. Tentou focar seu pensamento nos médicos à sua volta, mas apenas conseguia estar em suas mentes, observar as imagens de seus pensamentos. Mas o foco era impossível de manter pois outra mente ocupava sua atenção, e mais outra e mais tantas outras. Enquanto seu corpo viveu, Ziembinski funcionou como o receptor passivo de tudo o que vivia. Com a velhice do corpo chegando e com a deterioração de seu próprio cérebro chegou a ter uma breve compreensão de que sua mente era apenas algo conectado a algo muito maior e que toda a sua capacidade de raciocínio e aprendizagem apenas era possível pelos limites bem estabelecidos em seu cérebro e seu corpo. A humanidade era, enfim, um invólucro de um pequeno pedaço de consciência com o qual poderia lidar. Se ainda fosse possível, usaria a própria capacidade de comunicação como uma explicação para a necessidade de limites da mente. Falamos para um, para alguns, até muitos. Ouvimos de um, de alguns. Nossos limites físicos nos permitem lidar com nossos processos de comunicação. Não estamos preparados para falar a todos e ouvir a todos simultaneamente. Aprendemos e aprimoramos nossa mente aos poucos, dentro de nossos limites. Somos como pequenas células que trabalham para aprimorar um corpo maior, do qual não temos consciência.

-oOo-

Iran levou vários dias até recuperar a consciência. Dentro de sua mente, uma antiga porta havia sido aberta. Enquanto estava inconsciente, ouvia a voz de seu antigo mestre, Freitas, dizendo que havia chegado o momento. Foi como se, dentro de seu cérebro, uma personalidade organizada e clara soubesse exatamente o que devia ser feito. Juntou a personalidade imposta por Reuben àquela que Iran mesmo compôs durante os séculos em que esteve sozinho no planeta e, sem pressa, deu um sentido e uma mente única a todas. Ao acordar não ouvia mais os pensamentos de Nadja, nem ela os dele, mas reviveram um sentimento que tinham um pelo outro, ao qual não sabiam dar nome. Teriam que dar nome também ao filho que esperavam.

O cérebro morto de Reuben foi transportado à nave e conservado para o estudo de sua evolução física, já que a comunicação direta de sua mente com a do cluster de naves estava frustrada. O cluster se desfez, cada uma das naves seguindo o seu rumo. O capitão retornou à sua nave com a missão de, em mais alguns anos, retornar com um contingente de colonos para habitar o planeta, considerado fértil e apropriado à vida humana. Anna e G'reog ficaram no planeta com Nadja e Iran, conduzindo novos estudos e estabelecendo as bases necessárias para receber os novos habitantes.

-oOo-

Anna e G'reog repousavam, com os pés em um riacho, depois de terem feito amor.

"G'reog, sabe, eu não sinto falta de mais gente. Por mim, eu poderia passar a vida inteira aqui sem que novos colonos viessem..."

"Anna, dizes isto agora que fazem apenas dois anos que as naves deixaram a órbita. Em breve vai sentir o desejo de conversar com mais pessoas, trocar ideias, aprender mais..."

"Há tanto a aprender aqui... Eu nunca imaginei que faria amor, que teria vontade de fazer amor..."

"Uma vontade insaciável, diga-se de passagem..."

"Será que a vontade diminui depois que a barriga cresce com o bebê?"

"Eu sinceramente espero que não!"

-oOo-

Não muito longe dali, o filho de Iran e Nadja brincava com um galho de árvore, escavando raízes na busca de larvas de insetos com as quais alimentava o anfíbio de grandes olhos claros que habitava uma caverna próxima.

-oO: FIM :Oo-

Cesar Brod também publica seus textos no Tumblr. Lá você pode ler, em capítulos, o seu livro Fantasmas e alguns de seus Contos.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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