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Ficção Científica? #15

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 15 de Fevereiro de 2011

Nadja não chegou a assustar-se com os imensos olhos claros que fixaram-se nela naquela escassa luz azulada. Sentia uma certa agitação, talvez ansiedade, emanando da grotesca criatura que já havia visto nos pensamentos de Iran.

"Sinto que você já se comunica telepaticamente com ela. Não sei se esta foi a decisão correta", disse Reuben a Iran, sem que Nadja pudesse entender seus pensamentos.

"Seus companheiros estão vasculhando o planeta. Sua tecnologia irá permitir que o encontrem mais cedo ou mais tarde. Tomei a decisão de expor-me mais a ela para que ela confiasse em mim e viesse até você. Ela já espera uma criança minha."

Ainda que a comunicação entre Iran e Reuben fosse muito rápida, praticamente instantânea, Nadja percebeu que estava sendo mantida à margem dela. Usou sua voz para chamar a atenção de Iran.

"E agora? Você pretende manter isto aqui escondido do capitão e da minha tripulação? Você sabe que isto é impossível. O que espera de mim?"

Reuben era capaz de comunicar-se telepaticamente com Iran. Imaginava que em breve poderia também comunicar-se assim com a mulher. Mas se a sua parca evolução já lhe havia brindado com olhos, os ouvidos ainda estavam fora do pacote. Talvez por, até o momento, não ter sentido a necessidade deles. Sentiu-se furioso por não ter entendido o que Nadja falou e apavorado com a possibilidade de Iran ter deixado esta mulher ficar tão íntima dele. Imediatamente abriu, na mente de Iran, o compartimento onde havia cuidadosamente armazenado a personalidade que lhe foi útil na montagem do ninho em que vivia. Teria que improvisar.

O corpo de Iran tombou, inerte, no chão da caverna. Nadja começou a bater em seu rosto.

"Iran, acorde! O que aconteceu?"

Iran olhou para ela em estado de choque, mas já não era mais Iran. Reuben sabia que devia ter cuidado.

"Desculpe, eu não ouvi o que você perguntou. Pode falar novamente?"

Nadja notou a inflexão estranha na voz de Iran, mas atribuiu ao desmaio.

"Eu quero saber o que você espera de mim. Por que revelou-me estes segredos? A tripulação encontrará este lugar rapidamente! Por que não ouço mais sua mente?"

Quais seriam todos os segredos que o tolo havia revelado? Reuben tentava raciocinar rapidamente. Não poderia arriscar-se a libertar a personalidade de Iran e perguntar-lhe diretamente. Tinha que ter cuidado em não revelar-se para Nadja.

"Também não ouço sua mente. Eu não sei o que aconteceu. Eu e Reuben nos comunicamos diretamente, com muita velocidade. Há muitos anos não tínhamos outra pessoa presente em nossas conversas. Talvez tenha havido uma sobrecarga em meu cérebro, não sei explicar. Deixe-me falar um pouco com Reuben que descobriremos e eu contarei tudo a você. Minha cabeça dói muito."

Reuben já sentia a personalidade de Iran tentando retomar o controle de seu corpo, mas a proximidade de seu cérebro, em conexão telepática, permitia que se mantivesse no controle. O corpo de Iran moveu-se para bem perto de Reuben e suas mãos tocaram a sua fronte. Reuben sentiu pela primeira vez -- ao menos não tinha nenhuma recordação disto -- o toque de outro ser humano, mesmo que fosse sua própria mente a controlá-lo. Os olhos de Reuben e Iran dirigiram-se para Nadja.

"Ele pede que você se aproxime. Pede que o toque como estou fazendo."

Nadja não conseguia mais sentir-se segura na presença de Iran. De fato, não sentia a presença de Iran. Sentiu medo, muito medo. Correu, tropeçando em direção à saída da caverna. Ouviu Iran gritar "Nãooooooo! Volteeeee aquiiiii!". Mas a voz, mesmo sendo a de Iran, não parecia mais sê-la.

Do lado de fora da caverna G'reog já descia do flutuador quando viu Nadja, apavorada, correndo em sua direção.

"O que aconteceu, Nadja? O capitão pediu-me para iniciar a busca seguindo a sua localização e vendo se estava tudo bem com você e seu novo amigo..."

"Sem mais ironias, G'reog. O nome dele é Iran. A sua nave, ou o que restou dela, está naquela caverna. Um dos cérebros que a controlavam sobreviveu. Tenho mais o que contar. Chame os outros. A busca acabou."

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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