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Ficção Científica? #12

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 31 de Janeiro de 2011

Iran acordou de um sono recheado de sonhos fundidos em lembranças. Teve dificuldade, ao abrir os olhos, em entender onde estava. Sentia muita fome e muita sede. Seu corpo e sua cabeça doíam muito. Quando finalmente decidiu vencer a dor e mover-se, uma luz clara acendeu-se revelando o interior silencioso da nave. Não havia mais comunicação direta alguma com ela. Serviu-se de uma ração de alimento e água e notou as feridas nos seus braços e em suas têmporas, onde a nave tratava de injetar sua alimentação e medicação intravenosa. Acessou a console apenas para ter a certeza final de que a nave estava morta e agora, já instintivamente, iniciava os procedimentos de emergência que era obrigado a saber de cor para uma situação assim.

Os registros não eram específicos quanto a sua localização e a instalação dos sensores que funcionariam como referencial comparativo aos sistemas de contagem de tempo calibrados na Terra não havia sido feita. Pela flacidez de sua pele, a dor em seu estômago e a sede que sentia Iran calculou que havia ficado sem alimentação intravenosa por um mínimo de cinco dias. A última entrada feita pela nave em seus registros fora feita há mais de um mês. Iran lembrou-se da última vez que acordara. Naquela ocasião, estava há 67 dias no planeta. Ele não sobreviveria sem alimentação intravenosa durante todo o tempo em que a nave deixou de fazer seus registros. De alguma forma, ela perdera a capacidade de registrar os dados mas sua prioridade em mantê-lo vivo mantivera-se. Até o último instante de sua consciência a nave tratou de alimentá-lo. Morrera há pelo menos cinco dias. Iran achou estranho pensar na nave como um ser, uma pessoa. Mas, afinal, os cérebros que compunham seu núcleo de inteligência eram humanos.

Iran buscou os antibióticos e analgésicos de que precisava e seguiu lendo os registros feitos pela nave. No momento da queda a nave tivera várias de suas camadas externas danificadas. Um dos cérebros não havia resistido ao impacto. O planeta onde estava atendia aos requisitos definidos pelo projeto. Possuía uma atmosfera respirável, além de vegetação primitiva, água em abundância e um ciclo de chuvas que propiciava a semeadura das sementes de Kazinski. O satélite orbital ainda as devia estar lançando na superfície. Era mais do que hora de Iran dar início a seu trabalho, com ou sem a ajuda da nave. Antes, porém, precisava ganhar força e saúde. Toda a sua área de vivência e exercícios parecia estar intacta. Por mais que sua curiosidade de cientista o impelisse a abrir a nave e a ver o planeta, ele sabia os riscos de expor seu corpo debilitado a algum agente patogênico ainda desconhecido.

Nos dias que se seguiram Iran alimentou-se bem, leu minuciosamente todos os registros da nave, especialmente aqueles que o auxiliariam a posicionar os sensores, apontando-os para as estrelas referenciais. No quinto dia, sentindo que já estava bem melhor e com a ansiedade para sair da nave tornando-se quase insuportável, Iran separou os sensores e retirou o traje de exploração de seu compartimento. Seu coração disparou quando viu que ele já havia sido usado.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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