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Educação e Tecnologia ? O padrão Orkut de qualidade

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 26 de Janeiro de 2011

Em meu artigo anterior propus a contratação do Orkut Buyukkokten para a presidência do INEP, Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais. Afinal, a boa parte dos estudantes que prestaram as provas do ENEM e usaram o SISU para candidatarem-se a uma vaga no ensino superior estão acostumados ao padrão Orkut de qualidade.

Mas, passados os traumas dos vestibulares, ENEM, SISU, etc, chega o aluno à instituição de ensino superior. Há uma grande chance deste aluno ser da famigerada Geração Y, aquela que nasceu com perfil no Facebook e celular na mão, tuitando sobre o momento de seu nascimento e criando uma comunidade para falar de seus pais.

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Aula Magna na UFFCMA, Universidade Federal Fictícia de Cabrobó do Mato Adentro. Recém inaugurada, laboratórios com computadores estalando de tão novos. O reitor usa um iPad para projetar no moderníssimo DataShow sua impressionante apresentação, elaborada com auxílio do pessoal de marketing. Quando chega na parte relativa aos recursos de informática da instituição, orgulhosamente anuncia que o ambiente virtual de aprendizagem segue o padrão SCORM, o que permite que a universidade compartilhe conteúdos com todas as universidades que seguem o mesmo padrão. Ao final da palestra o reitor, numa atitude de abertura e transparência, dispõe-se a responder as perguntas dos alunos. Gilly, com sua vasta cabeleira armada, permanente sorriso e vestidinho estampado de corações, já está com as duas mãos levantadas. O microfone é conduzido até ela:

-- Reitor, eu queria tuitar sobre a sua palestra! Até tirei uma foto sua! Mas estou recebendo uma mensagem dizendo que preciso da senha WEP de 64 bits. O senhor pode me dizer a senha?

O reitor olha de um lado para o outro e socorre-se em Sheldon, reponsável pelo CPD, que toma a palavra:

-- Querida aluna, todos os que estudam nesta universidade têm acesso à nossa rede sem fio, mas para isto é necessário um cadastro que poderá ser feito na secretaria de ensino. Depois, com este cadastro, a equipe do CPD irá registrar seu MAC address para fornecer-lhe uma senha e liberar seu acesso.

-- Legal! Depois disso vou poder tuitar e publicar a foto do reitor no Facebook!

-- Hmm... Não... Twitter, Facebook, Orkut e coisas assim estão bloqueados em nossa instituição. Estas redes sociais não condizem com nosso método didático.

O responsável pelo protocolo, temendo que a conversa enverede pelo tecniquês, sabiamente interrompe a conversa e, dizendo que tem que dar a oportunidade para que outros manifestem-se, passa a palavra para um outro aluno. Wayne (as famílias de Cabrobó do Mato Adentro gostam de dar nomes estrangeiros a seus filhos) recebe o microfone:

-- Bom, minhas perguntas iniciais eram as mesmas de Gilly, mas sobre esse tal de SCORM, isso significa que nossa universidade vai poder usar os conteúdos do Massachusetts Institute of Technology?

-- Bem - começa a responder o reitor, um pouco surpreso com a pergunta - desde que o Massachusetts Institute of Technology use o padrão SCORM podemos, em teoria, usar seus conteúdos. Claro, desde que eles nos permitam fazê-lo. Mas basta que qualquer instituição de ensino use o padrão SCORM para que possamos trocar conteúdos, desde que este conteúdo seja disponibilizado em um acordo interinstitucional...

O pobre reitor acabara de gastar um dinheirão em um sistema virtual de aprendizagem e o tal padrão SCORM parecia, para ele, um baita diferencial. Ele sentia que se continuasse a usar a palavra SCORM ninguém mais ficaria rebatendo com palavras como WEP. O responsável pelo protocolo passou o microfone a Garth, para manter a fila andando:

-- Reitor, bacana essa coisa de SCORM! Quais são as outras universidades que utilizam este padrão e que já disponibilizam publicamente seu conteúdo?

O reitor sai chorando da sala, o responsável pelo protocolo dá a desculpa de um mal súbito e promete que todas as perguntas serão respondidas por escrito na página da instituição, dentro da área reservada para os alunos, a qual todos terão acesso após o devido cadastramento.

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Tem um vídeo de quatro horas, disponibilizado livremente através do portal CameraWeb da Unicamp, onde a professora Roseli Lopes, da USP, fala sobre As Mídias e os Meios Eletrônicos Interativos na Educação. Este vídeo, livremente disponibilizado e aqui referenciado pode ser embutido em qualquer página da web. O código para isto está disponibilizado junto com o vídeo.

Quase todos os vídeos que estão no Youtube, no Vimeo ou outros locais que possibilitam o armazenamento de áudio-visuais podem ser incorporados a páginas web. Os aprovados pelo ENEM para a Universidade Federal Fictícia de Cabrobó do Mato Adentro sabem como fazer isso. Eles já fazem isto em seus blogs no Tumblr, em seus murais no Facebook. Quantos deles sabem o que é SCORM?

Minha intenção não é criticar o SCORM ou qualquer outro padrão para o intercâmbio de informações em ambientes de aprendizagem, mas parece-me que enquanto os alunos avançam de um lado, algumas instituições criam amarras de outro. A aula da professora Roseli onde, entre outras coisas, ela propõe uma aprendizagem mais colaborativa entre alunos e mestre é, no mínimo, inspiradora.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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