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Tecnologias Integradas

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 08 de Junho de 2010

No dia 29 de abril de 2010 participei, a convite da Associação Equatoriana de Software, AESOFT de um evento chamado "Tecnologias Integradas, Convenção Internacional de Interoperabilidade". Interoperabilidade é essa palavrinha comprida que, em apresentações públicas, transforma-se em um verdadeiro trava-língua. Ela faz parte da minha vida desde que comecei a trabalhar com informática, lá no início dos anos 80. Na época, a maioria dos clientes com os quais eu trabalhava eram grandes bancos que usavam grandes computadores fabricados pela IBM, os chamados "mainframes". Qualquer outro fornecedor de tecnologia tinha que interoperar com os computadores e softwares da IBM para conquistar espaço no ambiente dos clientes. Ainda hoje os "mainframes" estão presentes nos bancos, responsáveis por funções de missão crítica como transferências de valores em tempo real, compensação financeira, câmbio de moedas e muitas outras. O que nós, clientes dos bancos queremos, porém, é acessar nosso extrato e pagar nossas contas usando nosso celular, notebook, iPad, torradeira elétrica, o que for. O banco que nos atenda, interoperando com nossas escolhas!

O que eu achei legal no evento da AESOFT foi o foco muito especial naquilo que o cliente realmente deseja e como nós, fornecedores de tecnologia e serviços, podemos atendê-lo. Foi a primeira vez que um evento deste porte e natureza aconteceu no Equador. Eu confesso, porém, que foi a primeira vez que participei de um evento com tal foco e clareza, independente do lugar do mundo.

Além de mim, participaram os brasileiros Alessandro Binhara e Everaldo Canuto; Peter Galli, sul-africano que vive nos Estados Unidos e é responsável pelo conteúdo do portal Port25; Jimmy Figueroa, da Microsoft América Latina; e Shawn Walker, do projeto DotNetNuke. Quando vi que o pessoal da Microsoft e, em especial, do Port25 estaria palestrando no evento, decidi direcionar minha palestra para o lado histórico da interoperabilidade, começando-a de forma muito parecida com o primeiro parágrafo deste texto e abordando os projetos de interoperabilidade que a BrodTec gerenciou para a Microsoft entre 2006 e 2009. Como de costume, não deixei de falar que, para mim, não há sentido algum na manutenção de patentes e propriedade intelectual de software e nem em licenças que restringem o acesso ao conhecimento. Por outro lado, não condeno ao inferno pessoas ou empresas que foram capazes de criar modelos de negócios e investir no avanço tecnológico usando tais mecanismos. Até aí, acho que todo mundo deveria ter o acesso gratuito a educação e saúde e também não condeno (ao menos na essência) escolas nem hospitais privados. Mas estou divagando...

Os que me conhecem sabem que não sou, de forma alguma, alheio a questões filosóficas que dizem respeito à liberdade. Também sabem da importância imensa que dou ao livre acesso ao conhecimento. No evento da AESOFT, porém, ainda que estas posições tenham ficado bem claras, discussões filosóficas e políticas foram colocadas, inicialmente, à parte. O resultado foi uma discussão prática, focada em tecnologia, negócios, geração de renda e crescimento econômico com responsabilidade social e ecológica. O interessante é que, por esse viés, de forma colateral, questões filosóficas reapareceram de uma forma mais convergente, no sentido de se usar a tecnologia para fazer o bem.

Há muito confessei meu incurável Complexo de Poliana, mas encontros deste tipo fazem-me seguir acreditando que as pessoas não são necessariamente ruins porque não compartilham dos mesmos valores que eu. E faz tempo descobri que as que parecem compartilhar os mesmos valores também não são necessariamente boas. Acho que é na aceitação e na discussão aberta de múltiplos valores individuais que podemos chegar na verdadeira "interoperabilidade de mentes", tão necessária para pensarmos e realizarmos um mundo melhor do que o que vivemos hoje.

PS: O termo "interoperabilidade de mentes" é livremente copiado de uma ideia original da Fernanda Alves Chaves. Segundo ela, o termo é LGPL!

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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