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IEEE.ORG #4

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 25 de Fevereiro de 2010

Vinte e seis mil crianças morrem de forma anônima e silenciosa cada dia. Vai somando. Terremotos e tsunamis não afetam muito a estatística porque, na prática, o que mais mata mesmo ainda são coisinhas perfeitamente diagnosticáveis e evitáveis, como a tuberculose, a malária, a doença de chagas, o impaludismo e, para ajudar a ação de todas estas, a aids.

Estou escrevendo e vão morrendo meninos e meninas. Tu vais lendo e mais uns tantos morrem.

Luis Falcon nasceu nas Ilhas Canárias mas passeou bastante pelo mundo. Formou-se em Ciências da Computação e Matemática e hoje cursa medicina, na Argentina, onde conheceu a realidade do norte do país onde muita gente ainda morre com a doença de Chagas. Luis resolveu ajudar da forma que sabia: programando. Ele e sua equipe escreveram módulos para a criação e manutenção de fichas médicas para o OpenERP. A análise das fichas pode agora apontar para relações familiares e de vizinhança e melhor detectar a ocorrência de Barbeiro, vetor do bacilo de Chagas.

A extensão do OpenERP criada por Luis chama-se Medical e, claro, está disponível de forma livre e aberta. O Medical já é utilizado em países tão diversos como a Alemanha e a Nigéria e possui uma comunidade de mais de 50 desenvolvedores ativos. Ele está plenamente traduzido para o português.

Luis usou e abusou de sua família para organizar o IWEEE. Sua mulher, Selene, cuidou das reservas de passagens e hoteis. Don Miguel, seu pai, foi o grande diretor do evento e o pai de todos. Controlava os horários, nos dava o dinheiro para os táxis, sempre muito distinto e sério, mas mal podia esconder o orgulho pelo trabalho de seu filho e a admiração pelo grupo de amigos que acabara de conhecer.

Eu imagino como deve ter se sentido dona Tily, junto a seus três filhos, ao ouvir o agradecimento do Professor Bernardo Agudelo no jantar de gala, no penúltimo dia do evento.

Bernardo criou o Codigo Rojo, uma sequência de procedimentos que permitem detectar situações de risco de morte para mulheres que acabam de ter filhos. Um "scrum sprint backlog" com ciclo de poucos minutos a alguns dias. A ideia é muito simples, como todas as boas ideias. Bernardo e sua equipe mapearam as principais causas de morte de mulheres que acabaram de dar a luz nas áreas remotas da Colômbia e documentaram, de forma simples, procedimentos de socorro e acompanhamento. Assim, quando não há um médico presente, auxiliares, enfermeiras, parteiras podem dar uma melhor assistência à mulher localmente e coletar informações importantes para os médicos que estão distantes, dando assistência via celular ou deslocando-se para o local do atendimento.

O agradecimento do Professor Bernardo foi para as mães que puderam criar, ver crescer todos os presentes e, especialmente para aquelas que sequer puderam conhecer seu primeiro filho, ou que deixaram tantos outros órfãos, mas que ao menos puderam contribuir com dados para que cada vez mais mães posam exercer o direito de criar seus filhos.

Ao final do agradecimento do Bernardo, pediram-me que eu o traduzisse para o inglês. Foi muito difícil, assim como foi tentar lembrar de tudo o que ele falou e escrever aqui. Tanto na hora, como agora, lembrei da minha mãe e meus irmãos, minha mulher e minhas filhas, minhas avós e meus infinitos tios e tias, da Maria, da Fabi, da Jô, da Dona Orides, da Dona Clarinda... Jamais conseguirei agradecer à Dona Ione tudo o que ela fez por mim mas, se ajuda, foi nela em quem mais pensei enquanto ouvia, depois traduzia e agora é em quem penso enquanto escrevo este artigo.

Mãe, obrigadão por estar comigo desde minha concepção até hoje. Te amo mais do que é possível expressar. Mas que o mundo inteiro saiba disso!

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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