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Ficção Científica #9

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 15 de Setembro de 2009

(Leia também os capítulos anteriores)

O planeta que lhe fora designado estava a uma distância de 12 anos da Terra. A maior parte deste tempo Iran passou em estase, acordando a cada dois meses para uma rotina de exercícios físicos que garantiam a saúde de seu corpo. Não havia uma ordem explícita para que os cientistas retornassem imediatamente à estase após esta rotina, mas uma forte recomendação para que isto fosse feito a fim de evitar a solidão. A nave estava instruída a despertar seu cientista na eventualidade de algum problema ou na passagem por algum fenômeno interessante. A primeira vez que a nave despertou Iran foi ainda no sistema solar, em uma manobra na órbita de saturno para que a nave tomasse o impulso para o salto para o hiperespaço, usando a atração gravitacional do planeta. A conexão direta do cérebro de Iran à nave fazia com que as câmeras externas alimentassem diretamente seu nervo ótico, de forma que a sensação era a de que, ele mesmo, sem nave alguma, voava livremente em torno do planeta.

Chegava a sentir pena da nave, composta de dois cérebros doados por cientistas brilhantes agora desprovidos de qualquer sentimento, capaz de proporcionar-lhe tal espetáculo. Sentiu a nave acelerar além da catapulta gravitacional quando os motores iônicos entraram em potência máxima. As estrelas inicialmente pareciam tornar-se, todas, milhares de riscos no espaço. Era como se, observando uma noite sem nuvens, todas as estrelas se tornassem cadentes. Em poucos minutos, porém, o espetáculo de luzes deu espaço ao completo vazio do hiperespaço. "Iran, deseja alguma distração? Quer voltar à estase?" Mesmo sabendo que inúmeras distrações holográficas estavam disponíveis, Iran apenas curtiu as trevas e seu silêncio por mais alguns minutos e, em seguida, voltou à estase.

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A cada vez que acordava da estase, Iran tinha apenas a sensação de uma noite bem dormida, mas sem sonhos. Seu espaço na nave não chegava a ser grande, mas além de confortável, uma sensação de amplitude maior era proporcionada pelas projeções holográficas. Iran dissera à nave que não narrasse sua sequência de exercícios, mas que apenas o alertasse quando esquecesse algo, o que raramente acontecia. O fato é que não gostava de ficar ouvindo uma voz sem um corpo, mas também havia negado a sugestão da nave de se comunicar através de um avatar holográfico.

Após a primeira sequência de alongamentos servia-se de sua ração, sempre imaginando que, em mais alguns anos, poderia comer de sua própria colheita em um planeta fértil como um dia foi a Terra. Ao fazer sua corrida, pedia à nave que simulasse um campo com plantações de trigo, milho, cevada ao seu redor. Sempre ultrapassava o tempo e o esforço de seus exercícios, mas nunca chegando ao limite em que a nave poderia colocá-lo, forçosamente, em estase.

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Outra rotina à qual Iran era submetido, com menos frequência que a de exercícios físicos, era a de simulação dos procedimentos que executaria em seu planeta de destino. O planeta pertencia a um sistema estelar que era afetado pela gravidade do buraco negro que localizava-se no centro de sua galáxia. Ainda que o arranjo de forças fosse estável, a rotação e translação do planeta eram bastante irregulares quando comparadas à da Terra. Além disto, como tratava-se de uma região inexplorada, um conjunto de sensores apontados para um mínimo de dezessete estrelas e outros que mediam a evolução das marés em leitos de água subterrâneos (que acreditava-se existir no planeta) deveriam ser constantemente verificados e, quando necessário, ajustados. O resultado das medidas dos sensores permitiriam a Iran estabelecer uma constante relação entre os "dias" de seu planeta e os da Terra, permitindo uma avaliação mais precisa das forças que comandavam o movimento do planeta. O computador da nave seria responsável por deduzir a fórmula de forças, a relação com o tempo terrestre e tudo o mais, mas Iran deveria também decorar a fórmula deduzida para o caso de alguma eventualidade. Iran nunca foi capaz de fazê-lo.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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