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Innovation Day

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 14 de Janeiro de 2008

Em 19 de dezembro de 2007 participei do Innovation Day, na sede da Microsoft em São Paulo. Foi um evento de software livre e aberto. Os tempos mudaram? Sim e não, ao mesmo tempo.

Especialmente depois do lançamento do kernel Linux em 1991, uma série de aplicações e sistemas puderam ser desenvolvidos para um ambiente alternativo aos vários sabores de Unix existentes, OS/2, Windows e outros sistemas operacionais. Com o início da popularização do StarOffice, especialmente depois da compra da empresa StarDivision pela Sun Microsystems em 1999 e sua posterior abertura do código, o Linux começou a invadir o espaço dos desktops. Já mantido pela comunidade, com o nome de OpenOffice.Org (no Brasil, BrOffice), graças à distribuições Linux mais amigáveis como o Ubuntu e o Kurumin e especialmente por rodar também no Windows, esse conjunto de aplicativos para escritório acabou por disseminar-se ainda mais e, de carona, levar a curiosidade sobre outros softwares abertos para a plataforma Windows.

No lado da Microsoft, além dos inesquecíveis ataques ao Linux pelo CEO da empresa, Steve Ballmer, uma série de ações práticas que favoreceram a interoperabilidade entre seus produtos e outros de código aberto foram efetuadas. Ballmer também já riu do iPhone da Apple e mantém sua língua afiada contra a IBM e qualquer concorrente que apareça no horizonte. Isto não quer dizer que o MS Office não vá rodar nos Macintoshes da Apple, que outros produtos da empresa não rodarão em máquinas da IBM. Mesmo a IBM, por mais que invista no Linux, recomenda o Windows Vista em sua linha de notebooks Lenovo. Enfim, nada é preto ou branco e, no frigir dos ovos, o que determinará a composição de uma solução é a necessidade e a vontade do cliente, aliadas a um compromisso com a manutenção de seu legado.

Neste Innovation Day, bolsistas e professores da UFRGS, Unicamp e Unesp apresentaram a evolução dos projetos desenvolvidos, em código aberto, com o apoio da Microsoft. Já falei sobre vários destes projetos nessa minha coluna e todos eles podem ser acessados a partir da página do Núcleo de Desenvolvimento Open Source e Interoperabilidade. O encontro proporcionou maior visibilidade do que é desenvolvido dentro de cada instituição e a integração entre os desenvolvedores. Mais do que isso, o evento mostrou o quanto é natural falar de código aberto dentro da Microsoft. Os tempos mudaram?

Depois que a Brod Tecnologia começou a prestar serviços para a Microsoft, em agosto de 2006, observei que, independente de licenças, patentes e propriedades intelectuais, os desenvolvedores da empresa e de sua rede de parceiros trocam informações e código de forma aberta e transparente, especialmente através da rede MSDN, mas também através de várias listas de discussão. Quando alguém precisa de ajuda, sempre existe outro que irá prestá-la, de maneira muito similar ao que acontece na comunidade de código aberto. Uma diferença fundamental, porém, é que não se vê muita discussão filosófica. O pessoal troca informações e pronto. Aliás, isto é o que acontece também nas listas mais técnicas sobre sistemas de código aberto. O Innovation Day foi um reflexo dessa atitude. Foram apresentadas desde questões de interoperabilidade entre plataformas, a possibilidade de se ter um humano virtual falando a linguagem dos surdos (Libras) em um gadget do Windows Vista, até a assinatura digital de documentos em lote, passando por computação de alta performance em ambientes operacionais mistos. As linguagens de desenvolvimento e as licenças envolvidas nos projetos eram várias, mas o resultado sempre em código aberto.

Os tempos mudaram pois nada é constante. A tecnologia evolui, junto com as necessidades e avanços nos negócios dos nossos clientes e nós amadurecemos e aprendemos cada vez mais. Não mudaram no sentido em que certos princípios são mesmo imutáveis. E por mais incoerente que isso tudo possa parecer, são esses princípios imutáveis que fazem com que atitudes mudem. A Microsoft é uma empresa de software comercial. Durante um bom tempo, não fez sentido comercial para a empresa uma aproximação maior com sistemas de código aberto. Hoje faz. As últimas notícias no Porta25 ilustram isso muito bem. Falo mais da Microsoft porque é sobre ela que recebo mais perguntas e, por ter um contrato com a empresa, tenho mais acesso às respostas. Mas esse "princípio" de ganhar dinheiro com tecnologia não é exclusivo da Microsoft. A IBM, como eu já disse antes, apóia o Linux, recomenda o Vista e, mesmo sem ter averiguado esses dados, aposto que uma grande e significativa parte de seu faturamento é derivado de produtos e serviços voltados aos softwares fechados em seus mainframes.

Mas volto ao Innovation Day, que foi um marco em pouco mais de 18 meses de desenvolvimento em código aberto. Eu não imaginava poder trabalhar, um dia, gerenciando equipes de desenvolvimento de sistemas abertos, com o apoio da Microsoft. Aliás, não lembro de outra ocasião na qual pude fazer isso com tanta liberdade.

Abraços aos amigos da UFRGS, Unicamp e Unesp! Os trabalhos dos desenvolvedores dessas instituições, podem ser vistos aqui: Núcleo de Desenvolvimento Open Source e Interoperabilidade

Grande abraço ao Roberto Prado, que apostou nessa idéia mesmo antes dos tempos darem sinais de mudança!

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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