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Maddog

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 02 de Maio de 2007

Conheci o Jon "maddog" Hall, presidente da Linux International, pessoalmente em 1999. Antes disto, eu já o conhecia a partir de sua iniciativa em ter fornecido ao Linus Torvalds, em 1994, duas máquinas da Digital para que ele portasse o Linux à arquitetura Alpha. Quem ainda lembra do primeiro post do Linus sobre o Linux, em 1991?

"It is NOT portable (uses 386 task switching etc), and it probably never will support anything other than AT-harddisks, as that's all I have :-(."

Ou seja, segundo o Linus, o Linux não rodaria em arquiteturas outras que o 386 e não suportaria nada além de harddisks AT. Graças à visão do Maddog, o futuro foi muito diferente.

Em 1996, a empresa para a qual eu trabalhava, a Tandem, integrou-se à Compaq, que menos de dois anos depois adquiriu também a Digital, onde o Maddog trabalhava. Assim, por um curto espaço de tempo, fomos colegas de trabalho. Eu sabia disto, o Maddog não! Depois eu contei para ele.

Foi em 1999 que finalmente o conheci pessoalmente, na mesma Linux World que menciono em meu artigo Linus Torvalds. Um grupo de uns cinco ou sete estudantes ficavam circulando por todo o Moscone Center, em San Jose, com exageradas barbas e cabelos brancos, gritando "Nós somos o Maddog!". Mesmo acompanhando o avanço do Linux desde o final de 1992, eu não imaginava que figuras como o Maddog e o Linus eram tratados quase como ídolos do Rock.

Em 11 de setembro de 2001, todos sabem o que aconteceu. Naquela época, eu estava conversando com o Maddog para que ele viesse para um evento em Recife, no mês seguinte. Imaginem o que foi confirmar esta viagem, não por culpa do Maddog, mas pelo compreensível caos que tomou conta dos aeroportos e empresas aéreas. Maddog fez um roteiro nada ortodoxo para chegar ao Recife, mas chegou. Anteriormente, eu havia falado com a organização do evento, especialmente com o Maruen Said, e concordamos que, caso nosso palestrante principal quisesse desistir da viagem, que não haveria problemas. O Maddog jamais pensou em desistir: "Desistir, sim, seria equivalente a assumir a força dos terroristas!". A partir daí descobri que Maddog é brasileiro, não desiste nunca!

Posso dizer que, a partir deste encontro em Recife, a admiração que eu sempre tive pelo Maddog transformou-se também em amizade. E, junto com esta amizade, vieram inúmeras histórias. Na primeira delas, passeávamos pela praia de Boa Viagem e um menino veio pedir a nós que pagássemos para ele um cachorro-quente. Quando o Maddog tirou o dinheiro para pagar, outros seis meninos vieram e acabaram aproveitando também da generosidade. Com o cachorro quente na mão, o menino saiu gritando pela rua: "Papai Noel tá dando cachorro-quente! Papai Noel tá dando cachorro-quente!". Graças à diferença de preço entre o hotdog americano e o cachorro quente em uma praia do Recife, o "Papai Noel" acabou comprando a produção da carrocinha. Já até virou lenda urbana: O dia em que Papai Noel aterrisou na praia de Boa Viagem.

Eu sei que o Maddog curte a comparação com o bom velhinho. Eu mesmo tenho minhas dúvidas se ele não é mesmo o próprio. No feriado de Páscoa tivemos uma série de reuniões na sede da 4Linux em São Paulo. Em um típico feriado, só estávamos os participantes da reunião no prédio. Ao sairmos do elevador, no sábado, no sétimo andar, uma senhora, que terminava a limpeza e esperava para embarcar no elevador, quase teve um ataque cardíaco, seguido de um ataque de risos, ao ver o Papai Noel e sua gang. Na hora, falei: "Também, nesta época, ela estava esperando era o Coelho!".

Em 2002 Maddog criou a iniciativa "Linux Around the World", juntou gente de vários países para uma "turnê internacional" falando sobre a maturidade dos sistemas em código aberto em todas as áreas de aplicação. A primeira parada desta turnê foi em Istambul, na Turquia. Estávamos, entre outros, eu, Leslie Proctor, Timothy Ney, Bdale Garbee, Donald Becker, Don Marti e o Professor Sun, da Red Flag chinesa. Vindo da Tandem, eu era (e sou) muito fã de sistemas tolerantes a falha, de processamento paralelo massivo. Pra mim, foi uma tremenda honra poder ter um tempão pra conversar com o Don Becker, um dos criadores do projeto Beowulf. A maior parte das nossas conversas aconteciam em um ônibus que nos levava do hotel ao evento e para os nossos lautos jantares, sempre com muito peixe, para horror do carnívoro Maddog! É da Turquia o conjunto de instruções do Maddog para se fazer um bom chimarrão, um eterno "hit" no portal da Brod Tecnologia, que foi usado recentemente em um bonito presente que a Solis produziu para seus clientes.

Maddog é um visionário, um homem de negócios, um homem de família e um grande amigo. Chamo-o de "Godfather", o padrinho ao qual eu peço conselhos, dicas, a quem incomodo de tempos em tempos. Especialmente, é alguém a quem ouço muito. Claro, como acontece com quaisquer duas pessoas, nem sempre concordamos em tudo, mas é também na divergência que seguimos aprendendo um com o outro. Uma coisa que admiro muito nele é a capacidade de abertura ao diálogo, ao mesmo tempo em que mantém a firmeza na convicção absoluta em seus princípios. Certamente, um exemplo a ser seguido.

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Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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