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Por Cesar Brod

Data de Publicação: 21 de Setembro de 2006

Fiquei em dúvida se mandaria um artigo mais técnico nesta semana como alguns leitores sugeriram ou se aproveitava a repercussão de algumas notícias recentes que saíram pela web. Optei pela segunda e assim poupo os leitores que não gostam de ler este tipo de texto avisando-os aqui neste primeiro parágrafo.

Os que, como eu, já estão em seus quarenta e uns, devem lembrar da história de Hiroo Onoda, um oficial do exército japonês que por quase 30 anos não acreditava que a segunda guerra havia acabado. Depois de localizado, em 1974, por um estudante nas montanhas de Lubang, nas Filipinas, o governo japonês acabou por contatar o antigo superior de Hiroo para que o mesmo aceitasse a ordem de depor suas armas. Entre o final da guerra e sua rendição à verdade, Hiroo matou uns 30 filipinos e entrou em uma série de confrontos armados com a guarda local. Depois disto, ele chegou a morar por algum tempo no Brasil, criando gado.

Muitas vezes questões envolvendo software livre e proprietário tomam mesmo jeito de guerra santa. As discussões não convergem e declarações são repetidas eternamente sem o mesmo poder de convencimento que uma vez até tiveram. É fato que, pensando em termos de mercado, o avanço do software livre fez com que empresas de software proprietário reposicionassem suas estratégias. É fato também que o debate sobre a liberdade do conhecimento ampliou-se, em parte pelo tema "software livre", mas também por questões como transgênicos, remédios e muitas outras coisas. É justo apenas poucos deterem o conhecimento de como produzir remédios para a Aids? É justo a empresa que comercializa um tipo de semente ser a única a saber como produzir um herbicida que irá ser inócuo apenas para a tal semente? A discussão vai longe...

Agora, por trás de cada empresa que até hoje teve seu modelo de negócios, lucro e crescimento baseado em algum conhecimento proprietário, há um grupo de acionistas que subiriam pelas paredes se comunicados que o "segredo" de tal empresa seria aberto ao público. Antes de ser certo ou não, isto é fato. E não falo aqui só das empresas, mas de todo um modelo capitalista que pode até estar mudando ou falindo. Isto é um processo histórico demorado, com o detalhe que, como de costume, no mundo da tecnologia não será tão demorado assim.

A fidelidade aos princípios é, segundo minha opinião, diretamente proporcional ao caráter, ao valor das pessoas, independente da forma pela qual cada uma ganha a sua vida. Também já disse antes que sou um eterno otimista. A ampliação da conectividade, a superação de fronteiras físicas graças à tecnologia, a possibilidade cada vez maior de todos tomarem conhecimento de tudo e vociferar suas opiniões faz o mundo mudar para melhor. Claro que nem tudo são flores: guerras, abusos, autoritarismo estão aí. Ainda falta incluir muita gente no ciberespaço. Por causa disto vou reclamar sempre de tudo? Não! Vou trabalhar para que mudanças aconteçam. Pessoas operam mudanças quando descobrem que, de fato, têm o poder para isto.

Outra do meu tempo (talvez tenha me batido um saudosismo, pois às vezes parece que estou assistindo a um filme antigo) é a propaganda do biscoito Tostines: "Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?". Certas discussões caem na vala Tostines, da eterna repetição, eterna divergência, sem uma parada para botar a cabeça para fora e perceber que a guerra pode ter acabado, ou que, no mínimo, o mundo segue mudando. A chave da propaganda da Tostines é "vende mais", isto é que é enfatizado na pergunta que coloca em si a importância da questão. O slogan, mesmo na forma de pergunta, afirma: vende mais e pronto!

Não quero dizer com isto, claro, que "ser vendável" no sentido comercial da coisa é o que sempre deve ser levado em conta. Usei a analogia da Tostines apenas para ilustrar que, quando queremos "evangelizar" as pessoas naquilo em que acreditamos, temos que ter total clareza sobre as idéias que queremos vender, passar adiante. Já vi posições radicais afugentarem pessoas - e empresas - que poderiam, com o bom diálogo, estarem mais abertas à utilização de softwares de código livre e aberto. Também pude participar de ocasiões onde o diálogo e a compreensão levaram a um entendimento e à abertura mesmo onde não se acreditava que isto seria possível.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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