Capacitação profissional em tempos de Internet

Por Rubens Queiroz de Almeida

Data de Publicação: 23 de Maio de 2007

Em um evento de software livre de que participei em 2003, no Equador, assisti uma palestra muito interessante, ministrada por Ricardo Rocha, que é um dos desenvolvedores do Apache. Ele contava do desemprego em seu país, a Colombia. Dizia que lá as pessoas só estudavam se eram pagas. Mas só conseguiam emprego se sabiam alguma coisa, e não sabiam nada porque não eram pagas ....

Eu me lembro bem como comecei a minha vida profissional. Formei-me em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 1983. Viviamos então uma terrível recessão, no governo do último presidente da ditadura militar, João Batista de Figueiredo. Ninguém conseguia emprego. Eu me virava dando aulas de inglês. A profissão mais quente daquela época era a informática, que estava nascendo no país. Os profissionais disponiveis eram poucos e muito bem pagos. Só que, ao contrário de hoje, para aprender realmente precisavamos do emprego, mas para arrumar emprego precisavamos saber alguma coisa. Não existia documentação disponível, as empresas possuiam computadores de médio ou grande porte e quem reinava no mercado era a IBM. Os manuais só eram enviados para os clientes que compravam os caríssimos computadores. Enfim, era complicado obter capacitação. Também não era fácil entrar no mercado ou mesmo aprender.

Quando eu vejo a facilidade com que temos acesso hoje a praticamente tudo, confesso que bate uma baita inveja. Com um computador usado de 500 reais, qualquer um consegue instalar um sistema GNU/Linux e sair aprendendo, com material disponível e de ótima qualidade como os guias Foca Linux e uma infinidade de sites e pessoas que têm o maior prazer em ajudar quem quer aprender. No mundo do software livre encontramos diversas pessoas, muitas delas bastante jovens, que munidas de uma grande curiosidade e desejo de aprender, estão realizando coisas notáveis.

Frequentemente realizamos seleção de estagiários. Não é raro eu receber respostas indignadas de candidatos reclamando que o que pedimos equivale ao conhecimento de pessoas com muita experiência, e muitas vezes sugerindo que não devemos pedir nada, e sim contratar pessoas sem conhecimento para ensinar tudo a elas. É claro que não exigimos conhecimentos no nível de especialistas, mas queremos muito contratar pessoas que tenham disposição para aprender, que já tenham conhecimento dos conceitos, mesmo que superficiais, que não se intimidem com desafios e que tenham uma visão positiva e paixão pelo que fazem. E gostamos muito de ensinar (para quem quiser, é claro).

O outro ponto são os currículos que são enviados. Raríssimos são os casos em que as pessoas enviam, além do currículo, uma cartinha personalizada dizendo a razão pela qual se interessaram no estágio, suas expectativas ou qualquer outra informação que a diferencie da avalanche de currículos que chegam. É algo tão óbvio e sempre me surpreende que ninguém tome esta iniciativa.

Eu ainda me lembro muito bem, dos meus tempos de criança, da gratidão que tinha por um professor de português, que abriu sua biblioteca para mim. Para aprender inglês eu tinha um rádio de ondas curtas que pegava a BBC de Londres, era mais chiado do que qualquer coisa, mas era o que eu tinha para ir aprendendo o idioma e o ritmo da língua inglesa e ficava feliz por ter o tal do rádio. Lembro-me também muito bem da frustração que sentia, quando por uma razão ou outra, algum tipo de conhecimento me era negado.

Hoje está tudo à mão, só não desfruta quem não quer. Antes de reclamar da falta de oportunidades e da injustiça do mercado, abra os olhos para o mundo à sua volta. A responsabilidade maior pelo seu aprimoramento profissional, hoje mais do que nunca, é totalmente sua.

Veja a relação completa dos artigos desta coluna